Católicosde Maputo celebram hoje o centenário da Paróquia da Namaacha com as atenções viradas para os desafios que se apresentam para o santuário, o marco dos 100 anos da instalação desta missão religiosa em Moçambique.

Uma missa está marcada para esta noite e vai ser presidida pelo arcebispo de Maputo, Dom Francisco Chimoio.

Foi a 25 de Junho de 1918 que se inaugurou a que ficou baptizada como Missão de São Luís Gonzaga, cujo foco era acolher e educar os filhos de colonos portugueses, na sua maior parte ou na totalidade, gerados com mulheres negras da então província ultramarina de Moçambique.

O arranque da actividade evangélica regista-se em 1937, ano em que se celebram os primeiros baptismos. É igualmente altura em que a missão muda de designação, passando a denominar-se Nossa Senhora de Fátima.

O padre Agostinho Raul, actual pároco e também reitor do santuário da Namaacha, aponta que um dos grandes marcos da antiga missão foi a aposta na educação, actividade que foi catapultada pela congregação de missionários Salesianos, que abriram os institutos João de Deus e Mouzinho de Albuquerque.

O primeiro educava raparigas e as suas instalações estão hoje em escombros, junto do santuário. O Instituto Mouzinho de Albuquerque acolhia rapazes e funcionava nas actuais infra-estruturas da Escola Secundária da Namaacha, na entrada da vila.

Sensivelmente 24 anos após a fundação da Missão, dá-se uma das grandes viradas, com o lançamento da pedra para a construção do que viria a ser o primeiro santuário de Nossa Senhora de Fátima em África. A cerimónia ocorreu a 13 de Maio de 1942, quando a Igreja Católica celebrava os 25 anos das aparições de Maria aos três pastorinhos portugueses em Fátima, Leiria,Portugal.

Com a inauguração do santuário a 29 de Agosto de 1944, a Missão da Namaacha passa a colher um dos lugares de culto e devoção mais importantes para os católicos a nível do país.

A educação, a evangelização e o culto e devoção abraçam-se desde então até à independência nacional, altura em que a Missão vê parte significativa do seu património infra-estrutural nacionalizado.

Entre os desafios, o padre Raul aponta a restauração dos edifícios que acolhiam o Instituto João de Deus para acomodarem os peregrinos e reitoria do santuário.

A construção de um salão para eventos, sanitários e até de uma basílica com capacidade de cerca de cinco mil pessoas constam da lista dos desafios a curto e médio prazos.

Da vila para o distrito           

As actividadesda Missão começam e circunscrevem-se, durante vastos anos, na vila da Namaacha, mas após a independência nacional expandem-se mais. Nasceram mais comunidades. Algumas perto, como as de Impaputo e Goba – as primeiras – e outras, a exemplo de Mussuquelane, em Changalane, a mais de 100 quilómetros da vila sede.

Tanto o padre Raúl como alguns católicos da Namaacha não duvidam que o santuário constitui hoje o principal marco, razão pela qual há já avanços para a separação da gestão daquele espaço com a da paróquia.

Ao que soubemos, as finanças do santuário já não se misturam com as da paróquia e dentro em breve haverá mais um sacerdote para cuidar unicamente de uma das instituições.

A ideia é tornar o santuário de Fátima um lugar de culto frequente e não apenas para colher duas peregrinações anuais em Maio e Outubro. Aliás, tende-se a popularizar peregrinações mensais nos primeiros sábados.

Contudo, as de Maio continuam sendo as que mais crentes movimentam. Não há muita fiabilidade nos números, mas o padre aponta 50 mil peregrinos em 2017 e 40 mil neste ano.

Os números eram muito baixos durante a guerra, tendo havido anos em que nem se quer houve peregrinação devido à insegurança.

Na visita à capela, vê-se testemunhos de milagres que as peregrinações operaram na vida de alguns participantes. Há relatos de esposos que não conseguiam gerar filhos, mas que já são pais; doentes terminais que voltaram a viver, entre outras mudanças, que os beneficiários consideram-nas de milagres das peregrinações.  

Património em disputa

Partesignifica dos edifícios da antiga Missão da Namaacha foi nacionalizada após a Independência. São exemplos as instalações da Escola Secundária da Namaacha e do Instituto de Formação de Professores, bem ao lodo do santuário.

A parte traseira é hoje ocupada por uma unidade das Forças de Defesa e Segurança. Em 1999 houve entendimento da Igreja Católica vedar a área e ganhar em troca um edifício localizado ao lado que fora um centro de saúde. A infra-estrutura estava destruída e após a reabilitação é actualmente a casa paroquial.

As infra-estruturas do Instituto João de Deus foram tomadas por algumas famílias, que exigem reassentamento para libertar as edifícios.

Uma antena de telefonia móvel está instalada na área do santuário, mas os fundos pagos pela empresa proprietária vão para uma entidade do governo local e não para a igreja, como devia.  

Entretanto, a missa marcada para a noite de hoje é de comemoração dos 100 anos da fundação da actual Paróquia Nossa Senhora de Fátima de Namaacha e de súplica para a superação dos desafios e realização dos projectos traçados.

    Fonte:Jornal Notícias

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