Os níveis de poupança reduziram em Moçambique, revela o relatório produzido pelo Banco de Moçambique. Segundo o documento, a redução ocorreu de forma significativa no ano passado, comparativamente ao ano de 2022.
Os economistas Mukhtar Carimo e Edgar Chuze apontam a taxa das reservas obrigatórias e a dívida interna como os principais motivos para a redução dos níveis de poupança em Moçambique.
O relatório produzido pelo Banco de Moçambique revela que, no ano de 2022, os níveis de poupança rondavam os 47% e, em 2023, essa poupança que os moçambicanos fazem nos bancos, através dos seus depósitos, reduziu para 44%.
Mukhtar Abdul Carimo revela que, nos últimos dois a três anos, o país tem enfrentado diversas dificuldades financeiras, principalmente no que se refere a valores para poder fazer face às despesas internas. E, quando o país não tem capacidade interna de gerar fundos para fazer face às despesas diárias, recorre à dívida interna, aumentando ou fazendo com que o fosso seja maior e, como consequência, a massa monetária deixa de circular no sistema.
O país, por via das obrigações e dos títulos de tesouro, endivida-se. Por esta via, também surge alguma liquidez disponível no banco e, deixando de haver disponibilidade em termos de massa monetária, o que acontece é que as famílias se vêem na impossibilidade de fazer poupanças, dando prioridade às despesas do seu dia-a-dia.
Com a redução da capacidade de poupança, os bancos comerciais também se ressentem desta realidade, uma vez que os níveis de reservas obrigatórias estão, neste momento, em torno dos 40%, o que faz com que quase a metade do valor disponível ou que deveria estar disponível nos bancos comerciais seja alocado ao banco central. Isto faz com que o valor disponível para emprestar seja reduzido.
Visto que quase 40% do valor é canalizado ao Banco de Moçambique, se o nível de poupanças as famílias reduziu, no sistema financeiro, em vez de existir 100 milhões de Meticais poupados, passaram a existir 50 milhões. O que acontece é que os bancos deixam de ter capacidades normais para poderem emprestar o dinheiro, dando a possibilidade de circulação do mesmo na economia.
Carimo disse ainda que, num contexto em que a Tabela Salarial Única (TSU) trouxe esperança para os funcionários públicos de melhoria de vida, a taxa de inflação veio a gorar as expectativas dos mesmos, visto que, houve aumento salarial na Função Pública, mas, no mesmo momento, o período inflacionário está coincidentemente alto, o faz com que o poder de aquisição também reduza. Porém, segundo dados divulgados pelo Banco de Moçambique, vislumbra-se um cenário mais agradável, visto que esta inflação, apesar de os preços estarem a aumentar, comparativamente aos anos anteriores, fala-se de uma pequena redução.
Por outro lado, Edgar Chuze avança que os moçambicanos não têm muita cultura de poupança e que, com a volatilidade do mercado financeiro, os poucos que fazem poupança desistem da mesma devido à dinâmica do mercado.
Contudo, as famílias de renda média e alta normalmente têm tendência a fazer outro tipo de investimentos que não são a poupança, por razões alheias ou por diversas razões. Uma das razões é que as taxas de juros, de depósitos a prazo, não são muito atractivas para que se possa colocar o excesso de disponibilidade na banca para gerar juros. Este aspecto retrai a apetência de parte dos moçambicanos para a adesão a este tipo de práticas.
No que concerne à revisão da Tabela Salarial Única ou à revisão anual dos salários do sector privado, Chuze diz que ainda se está aquém daquilo que são as necessidades dos cidadãos moçambicanos. Pois os salários ainda estão longe de satisfazer a cesta básica para a sobrevivência dos moçambicanos.
Soluções para reverter o cenário da desaceleração dos níveis de poupança Para Mukhtar Carimo, a solução para reverter o actual cenário passa por se investir na literacia financeira, apesar de existirem meios mais do que suficientes para o acesso à mesma. O nível de bancarização continua muito baixo. Porém, o que mais pesa é o que foi referido anteriormente, o facto de muitos dos cidadãos moçambicanos consumirem o salário do mês seguinte muito antes de chegar.
“O país primeiro tem de estar numa situação bastante diferente em termos económicos em relação ao que acontece hoje. O custo de uma cesta básica versus o seu rendimento é quase insustentável, mesmo com a Tabela Salarial Única (TSU).”
Para Edgar Chuze só se pode falar de literacia e mercado apetecível se os cidadãos moçambicanos tiverem excesso nos seus rendimentos. Caso contrário, será em vão, porque o cidadão sempre irá perguntar-se: como eu vou poupar se aquilo que eu recebo nem sequer chega para satisfazer as minhas necessidades básicas? Então, é preciso que se melhorem as condições para depois se ter espaço para a educação para fazer a poupança.
Fonte:O País