É proibida a lavagem de viaturas na via pública, na Cidade de Maputo, desde 2017. Apesar da interdição, a actividade continua a decorrer normalmente, um pouco por toda a urbe.
Todos os dias, quando amanhece, um pouco por toda a Cidade de Maputo, assiste-se ao cenário de carros estacionados nas bermas das estradas e passeios a serem lavados.
Não é de hoje. Há anos que é assim. Por isso, para travar a acção e punir quem desobedecer, sob alegação de reorganização da cidade, a edilidade da capital do país regularizou, através da Resolução número 66/AM/2017, de 30 de Março, o processo.
“É proibida a reparação ou lavagem de qualquer veículo na via pública, devendo os condutores, em caso de avaria, procederem à devida sinalização e retirar a viatura imediatamente pelos meios ao seu alcance para os locais onde não possa prejudicar o trânsito. Nos casos de lavagem de veículo na via pública, a multa será aplicada ao proprietário do veículo, podendo este ser bloqueado e rebocado pela Polícia Municipal”.
Segundo a mesma postura, em caso de desobediência, tanto para a reparação, bem como para a lavagem de carros na via pública, a multa a ser aplicada é de mil Meticais.
Quem pratica a actividade está ciente da proibição, mas diz não ter outra alternativa, pois a “a vida está cara e difícil para todos, principalmente para quem não foi à escola”.
Samuel Wati, conhecido nas ruas da cidade como Samito, está na actividade há quase cinco anos. Já perdeu a conta das vezes em que viu uma das viaturas que lavava a ser “trancada e rebocada” pela Polícia Municipal.
“Antigamente, a Polícia fiscalizava e dizia para não despejarmos água na via pública, mas, agora, reduziram. A sua atenção está na cobrança do estacionamento”, contou Samito, que trabalha ao longo da Avenida Samora Machel, bem próximo do edifício do Conselho Municipal.
A falta de emprego tem sido a principal razão, para estes permanecerem naquela actividade, mesmo sendo proibida.
“Às vezes trancam as viaturas, quando nos encontram a lavar e dizem que danificamos as estradas e os passeios, mas nós não temos como contornar. Não há emprego”, desabafou Jacinto Vilanculos, um dos vários polidores na capital.
Procuramos ouvir os automobilistas. Grande parte conhece a postura, mas diverge nas opiniões. Alguns, como José Mabjaia, falam de insensibilidade das autoridades municipais, perante aquilo que chamam de problemas reais.
Segundo a fonte, o Governo deve focar-se e concentrar-se nos desafios da actualidade, pois “cada vez que tomam uma decisão, colocam jovens no desemprego. Tentaram expulsar informais na baixa, como terminou? Achas que proibir é tudo? É preciso criar condições para que o polidor e o automobilista não saiam prejudicados”, disse.
“Querem levar-nos aos carwash, estamos em condições para pagar? Aqui, na rua, são 100 ou 50 Meticais, com possibilidade de negociar, já nos carwash, não. O facto de termos carro, não significa que temos muito dinheiro. Nós fazemos de tudo para ter uma vida digna, mas não tem sido fácil”, referiu a fonte.
Já Afra Castelo, outra automobilista que aceitou falar à nossa equipa, saúda a decisão, apesar de afectar directamente as suas economias. “Concordo com a postura e deve-se cumprir. Devemos aderir aos carwash, com ou sem dinheiro”.
Apesar da existência da Postura de Trânsito do Município de Maputo há cinco anos, a actividade continua a ser exercida com normalidade, até a escassos metros do edifício do Conselho Municipal de Maputo, onde inclusive está “instalada” a Polícia Municipal.
Fonte:O País