Chefes de Estado e de governo africanos que participam na Cimeira Estados Unidos- África, um evento de três dias, que arrancou ontem, na capital moçambicana, defendem que a criação de uma Zona de Comércio Livre Continental Africana (AfCFTA, sigla em inglês) vai impulsionar o desenvolvimento, dinamizando economias na base de trocas comerciais e ganhos mútuos.

Entretanto, ressaltam a necessidade de os países criarem capacidade interna para poderem explorar, de forma vantajosa, os acordos de comércio livre, olhando para a realização de investimentos sérios na componente de infra-estruturas, como factor-chave que irá permitir a livre circulação de pessoas e bens.
Num painel ao mais alto nível, composto por 10 Chefes de Estado e de Governo, o Rei Mswati III, do vizinho Reino de eSwatini, defendeu que a criação da AfCFTA vai nivelar o desenvolvimento no continente que, actualmente, apresenta discrepâncias assinaláveis nos níveis de desenvolvimento.
“Precisamos de nos unir numa Zona de Comércio Livre para permitir que os países tirem vantagens comparativas e se ajudem, mutuamente, na edificação das suas economias”, disse o Rei Mswati III.
Por sua vez, o Presidente zimbabweano, Emmerson Mnangagwa, disse que a população de África, que deverá atingir cerca de 2,2 biliões em 2030, vai conferir uma maior robustez ao mercado africano, razão pela qual urge a unificação dos estados e criação de uma zona de comércio livre para facilitar as trocas comerciais.
“Precisamos de recuar para aquilo que é a historia de África e vamos perceber que vários organismos foram criados para melhorar, cada vez mais, as relações entre os povos, mas sempre ficou claro que uma relação económica baseada em comércio sem barreiras dentro do continente seria, inquestionavelmente, um catalisador das economias africanas”, disse Mnangagwa.
Enquanto isso, o Presidente zambiano, Edgar Lungu, que também fez parte do painel dos Chefes de Estado africanos, que discutiu o tema intitulado “Parceria Resiliente e Sustentável entre Estados Unidos e África, defendeu que apesar de o continente caminhar para a criação da zona de comércio livre, África continua a enfrentar desafios de falta de capitais para melhor se posicionar num mercado aberto.
Por isso, é um imperativo a criação de mecanismos de atracção de investimentos para a construção de infra-estruturas capazes de conectar o continente e, dessa forma, partir para trocas comerciais mais vantajosas com o resto do mundo.
“O continente precisa de realizar investimentos no sector de infra-estruturas, aprimoramento do quadro legislativo e capacitação de recursos humanos para tirar vantagens desta nova era de oportunidades que os Estados Unidos colocam no continente”, anotou.
Quem também olha com grandes expectativas à nova fase de relações comerciais, na perspectiva de criação de uma zona de comércio livre para facilitar o desenvolvimento de negócios em África é o vice-Presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Nguema Obiang Mangue, referindo que apesar de o seu pais possuir recursos naturais continua a enfrentar dificuldades para atrair investimentos.
Referiu que os blocos económicos regionais criados para facilitar as trocas comerciais ainda estão longe de satisfazer as reais necessidades do continente que enfrenta enormes desafios, particularmente, na criação de postos de trabalho para os jovens que constituem a maioria da população do continente.
“Este espaço de comércio livre vai permitir que países de menor expressão, como é o caso da Guiné Equatorial, possam se inserir num mercado mais amplo”, anotou.
Por sua vez, a Secretária adjunta do Departamento de Comércio dos Estados Unidos, Karen Dunn Kelley, também enalteceu a importância da zona de comércio livre em África, advertindo, contudo, a necessidade de os países africanos se prepararem para competir num mercado aberto para todos, de forma a tirarem vantagens das trocas comerciais.
Kelley chamou atenção ainda para a melhoria do ambiente de negócios no continente, que ainda enfrenta barreiras de vária ordem, incluindo o quadro legislativo e político, que muita das vezes emperra o desenvolvimento do sector privado.
No dia 30 de Maio do corrente ano a AfCFTA entrou, oficialmente, em vigor. O acordo, assinado por todos, excepto três dos 55 países de África, estabelece a maior área de comércio livre do mundo desde a criação da Organização Mundial de Comércio, em 1995.
Quando os países restantes se juntarem, a AfCFTA cobrirá mais de 1,2 bilião de pessoas e um PIB superior a três triliões de dólares.

    Fonte:Jornal Notícias

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