Com a época a entrar no momento das decisões, ninguém pode garantir nada. Mas a Bruno Lage já não se pode tirar três meses de excelência enquanto treinador do Benfica.

Os factos – facilmente traduzíveis em números – não mentem. Podem ter diversas interpretações, claro, mas uma das grandes vantagens do desporto – ou dos jogos, se preferirem – é que, apesar de tudo, os factos conseguem ser um pouco mais objetivos do que noutras áreas.

Com Bruno Lage, o Benfica mantém-se em três frentes (competições). Em três das quatro que lhe “chegaram” às mãos. As mais importantes, pode dizer-se, uma vez que a que ficou pelo caminho foi a Taça da Liga, perdida nas meias-finais na derrota (1-3) frente ao Porto, na final four de Braga.

Na frente mais importante, o campeonato nacional, Lage ainda não perdeu, somando 11 vitórias e um empate, que lhe permitiram recuperar do quarto para o primeiro lugar, ganhando sete pontos ao Porto, nove ao Braga e 10 ao Sporting nestes três meses. Nos seus 12 encontros da Liga, o Benfica de Lage marcou 42 golos, a uma média de 3.5 tentos por jogo, tendo sofrido somente oito.

Curiosamente, no campeonato a equipa até rematou em média menos vezes por jogo do que fazia com Rui Vitória. Passou de 16.6 para 16.3 tentativas por partida, o que significa que a eficácia de remate aumentou exponencialmente: de cerca de 12% para 22%.

Importante é igualmente o incremento no números de oportunidades criadas. Com Vitória as águias desfrutavam de 6.2 situações claras de golo por jogo; com Lage passaram a ter 6.9, o que ajuda a explicar o crescimento significativo de golos marcados no campeonato.

Mas isto não justifica tudo, até porque criar mais de seis ocasiões flagrantes por jogo é sempre um excelente número, e portanto já o era no tempo de Vitória. O aproveitamento dessas oportunidades é que faz toda a diferença. E aí dos dados são incontornáveis: com Vitória essa rentabilidade era de 32%, com Lage passou para 51%.

Igualmente importantes são os números relativos às bolas paradas ofensivas: o Benfica de Vitória marcou duas vezes desta forma no campeonato (não contando penáltis) em 15 encontros, enquanto o de Lage apontou 11 golos na sequência de bolas paradas em doze partidas da primeira liga.

Também de realçar é o facto de, com Vitória, o Benfica até ter mais posse de bola média por jogo (60% contra 55%), fazia mais cruzamentos (15 contra 11.4), e realizava mais passes (506 contra 473), mas a eficácia média de passe aumentou com Lage (de 73% para 81%).

O mesmo se passou com a eficácia defensiva: com Lage melhorou para 0.7 golos sofridos por jogo, para o que muito contribuiu a redução das oportunidades concedidas aos adversários: de 3.2 por partida para 2.3.

Na Taça de Portugal, sob o comando de Lage, os encarnados venceram os dois jogos que disputaram, em Guimarães (quartos de final), e na primeira mão da meia-final frente ao Sporting (na Luz).

Lage europeu e “jovem”

Finalmente, Lage ultrapassou duas eliminatórias da Liga Europa, frente a Galatasaray e Dínamo de Zagreb, concedendo apenas uma derrota no processo (0-1, em Zagreb).

Contas feitas, com o novo treinador o Benfica perdeu duas vezes num total de 19 encontros, empatando também em duas ocasiões (com o Belenenses para o campeonato e com o Galatasaray para a Liga Europa).

No entanto, o enorme crédito que Bruno Lage conquistou junto dos adeptos do Benfica não se justifica apenas pelos resultados obtidos. Prende-se igualmente com a forma como (quase sempre) ganhou: jogando um futebol atrativo e principalmente utilizando muitos jogadores da formação do clube, uma promessa antiga de Luís Filipe Vieira.

Desde a sua chegada à primeira equipa, jovens como João Félix (19 anos) e Ferro (22) assumiram a titularidade absoluta, enquanto outros como Florentino Luís (19), Yuri Ribeiro (22) e João Filipe (20), têm marcado presença regular nas convocatórias e em algumas partidas. Como titular mantém-se, claro, Rúben Dias (21), sendo que Gedson Fernandes (20) é dos suplentes mais utilizados.

É curioso analisar o onze mais utilizado por Bruno Lage, em termos de minutos disputados. Na baliza: Odysseas Vlachodimos; na defesa: André Almeida, Rúben Dias, Ferro e Grimaldo; no meio campo: Samaris, Gabriel, Pizzi e Rafa; no ataque: Félix e Seferovic.

Não será forçado dizer que com Lage houve seis jogadores que ganharam um lugar que não lhes pertencia de forma clara: Ferro, Samaris, Gabriel, Rafa, Félix e Seferovic. Mais de meia equipa. Isto apesar do treinador ter vindo a impor alguma rotatividade, embora apenas nas competições a eliminar (Taça de Portugal e Liga Europa) de forma a manter envolvidos muitos outros jogadores que deixaram de ser as primeiras escolhas nas partidas de campeonato (Jonas, Gedson, Fejsa, Cervi, Zivkovic, Sálvio, Jardel).

Até nesta gestão de balneário (com certeza complicada) Bruno Lage tem impressionado todos os observadores. E como se tudo isto fosse pouco, ainda consegue uma espécie de “cereja no topo do bolo”: manter sempre uma postura irrepreensível, tanto no banco como na comunicação através dos media.

Fonte:TSF Desporto

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