Pesquisadores do clima alertam que as lagoas que se formaram no deserto do Saara, devido a fortes chuvas no sul do Marrocos, podem mudar o clima da região e originar, também, novos e mais tipos de vegetação no local mais seco do mundo.

Durante dois dias, uma das regiões mais secas do Marrocos, que não via água há cerca de 50 anos, observou enchentes. A situação, considerada rara e atípica, criou lagoas entre as palmeiras e dunas do deserto do Saara.

Os pesquisadores do clima, ouvidos pelo “O País”, estão divididos na explicação sobre o fenómeno. Mas convergem ao considerar que o Saara pode perder o estatuto de mais quente e seco do mundo.

Para o historiador ambiental Marlino Mubai, não há motivos para alarme, até porque “há dez ou cinco mil anos aquela era uma região com uma vegetação intensa”.

Mubai avança, justificando que “(…) aquilo não é um acontecimento isolado da região do Saara.Se olharmos para o planeta, no geral, vamos perceber que em tantas outras regiões há fenómeno um pouco fora do comum, sob o ponto de vista do clima”.

O sudeste do Marrocos é uma das áreas mais áridas do mundo e a chuva é rara, especialmente no final do verão. O governo marroquino informou que, em setembro, dois dias de chuva superaram a média anual em várias localidades que recebem menos de 250 milímetros por ano, incluindo Tata, uma das mais afetadas.

Em Tagounite, uma vila situada a cerca de 450 quilômetros ao sul da capital Rabat, foram registrados mais de 100 milímetros em apenas 24 horas.

As tempestades mudaram o deserto do Saara, fazendo água jorrar pelas areias e enchendo o Lago Iriqui, que estava seco há 50 anos. Essa quantidade de água também trouxe vida à vegetação local, criando um contraste impressionante com os castelos da região.

O pesquisador ambiental, Serafino Mucova, fala de “consequências negativas”, como “destruição de infra-estruturas e implicações económicas, ambientais e socioeconómicas” e “‘positivas”, neste caso “a recarga dos aquíferos que vai reavivar a ocorrência da vegetação neste local ”.

O investigador continua revelando que o continente adricano está cada vez mais quente e isso deve ser motivo de preocupação, porque “os próximos anos serão cada vez mais dramáticos.Esses eventos serão mais frequentes e intensos e é preciso uma boa preparação para fazer frente a estes eventos”, sugeriu o especialista.

O ambientalista Lário Herculano alerta que se o fenômeno preexistir, parte do deserto do Saara pode desaparecer ao longo do tempo.

“Se assim continuar, em trinta anos, nós já teremos perdido uma parte do deserto do Saara e vai afectar o equilíbrio ecológico”,adverte.

Há ainda muitas incertezas sobre a complexidade e significado do fenómeno incomum. Em meio a isso, os três especialistas convergem ao afirmar que a chuva, no deserto do Saara, pode causar mudanças no clima da região mais árida do mundo, influenciando o surgimento de nova vegetação, à medida que vai facilitar a produção agrícola.

“A dado momento que se formam lagos, elas podem criar novas precipitações,  isso pode criar chuvas cíclicas e a partir daí vamos ter um microclima diferente”, explicou Lário Herculano.

Este não é o primeiro caso atípico que ocorre na região. O mais recente deu-se há três anos, Gelo e neve cobriram as dunas do deserto, na região que compreende a Argélia.

Fonte:O País

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