Estudos científicos mostram que a separação de crianças de seus pais deixa sequelas no cérebro infantil. Fenômeno ficou conhecido como ‘stress tóxico’. Doutora Ana responde: O cérebro de crianças separadas de seus pais
O mundo está estarrecido com as imagens das crianças imigrantes que foram abruptamente separadas de seus pais e colocadas em abrigos. Inimaginável supor que, em pleno século XXI, com todo o conhecimento científico de que atualmente dispomos, sejamos ainda testemunhas oculares de tal atrocidade.
Todos estamos chocados. No entanto, saindo da ótica emocional e entrando no campo racional da neurociência, esta situação pode ficar ainda pior quando se entende as consequências devastadoras que tal fato pode significar para o resto da vida destas crianças.
Nascemos com mais de 1 bilhão de neurônios prontos e formados. Estes neurônios, no entanto, precisam se ligar, se conectar entre si, formando uma complexa rede essencial à execução de funções como aprendizado, relacionamentos emocionais e tantas mais. Podemos comparar nosso cérebro a um computador que, quanto mais conectado, mais é capaz de desempenhar funções específicas.
Cada conexão entre neurônios se chama “sinapse”. O mais incrível de tudo é saber que um pequeno bebê pode fazer o número impressionante de 700 sinapses por segundo. Exatamente isso: 700 sinapses em um segundo, desde que estimulado para isso. Qual é o maior e melhor estímulo? O vínculo afetivo que este bebê desenvolve com pais e/ou cuidadores.
Todo este processo se chama “neuroplasticidade” e acontece essencialmente nos primeiros 5 anos de vida, principalmente nos primeiros 2 anos. A formação desta “arquitetura cerebral” é que estrutura o ser humano em sua plenitude cognitiva e psicoemocional.
Em foto de 18 de junho de 2014, duas jovens dormem em uma cela, enquanto crianças são separadas por idade e gênero, enquanto centenas de imigrantes são registrados e mantidos no Centro de Alfândega e Colocação e Proteção de Fronteiras dos EUA, em Nogales, Arizona
AP Photo/Ross D. Franklin, Pool
No final do século XX o neurocientista Charles Nelson, professor da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, estudou crianças romenas que foram separadas de seus pais e publicou importantes trabalhos científicos demonstrando que as crianças que foram deixadas em abrigos, sem vínculos afetivos fortes, “desfizeram” várias conexões cerebrais já feitas.
Os estudos evidenciaram que a “arquitetura cerebral” destas crianças foi irreversivelmente danificada. Este agravo foi chamado de “ stress tóxico” e pode acontecer em crianças pequenas, quando submetidas a uma situação de risco emocional impactante como negligência, abuso, maus tratos ou abandono súbito.
Estamos chocados – sob as perspectivas emocional e racional- e temos razão para isso. Se esta situação não for resolvida rapidamente, estas crianças podem ter seu futuro cruelmente comprometido pela ignorância e pela desumanidade injustificáveis em um país que se considera o maior do mundo.

@Verdade

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