A história do dérbi entre Sporting e Benfica já ultrapassa os 100 anos. São muitas as figuras que ajudaram a manter sempre acesa a rivalidade entre águias e leões, mas muitas vezes com “cavalheirismo”. Juntos na TSF, Abílio Fernandes e Gaspar Ramos, não têm medo da palavra rivais mas colocam de parte o conceito de inimigos.

Sem necessidade de lançar a moeda ao ar para começar a antevisão do jogo da 20.ª jornada da Primeira Liga entre Sporting e Benfica, o “visitante” rapidamente diz que pode começar quem joga em casa, Gaspar Ramos, que foi vice-presidente no mandato de Manuel Damásio e diretor do futebol encarnado durante a década de 80 e 90, passa a bola ao adversário.

Abílio Fernandes, antigo vice-presidente do Sporting no mandato de Sousa Cintra, agradece e elogia a postura de Gaspar Ramos, “porque sempre foi um amigo no futebol e é um prazer estar a conversar com um homem que sempre respeitei, porque conseguíamos ter uma relação de respeito quando estávamos nos dois clubes”, diz o antigo vice-presidente do Sporting.

Sobre o jogo deste domingo, Abílio Fernandes, demonstra algum pessimismo. O ex-membro do Conselho Leonino, refere que “o Sporting não está forte como desejaria, mas este é um dérbi e é sempre difícil dizer quem vai sair vencedor no final do jogo”, até porque Abílio Fernandes recorda que neste clássico do futebol português “nem sempre ganha quem está melhor”.

Para Gaspar Ramos, depois de retribuir os elogios a Abílio Fernandes, concorda ao dizer “que os resultados destes jogos são imprevisíveis e até porque as duas equipas se equivalem, e quem errar menos vai ganhar”, diz Gaspar Ramos.

A força dos “quadros laborais” de Marcel Kaizer e Bruno Lage

Abílio Fernandes mostra algum ceticismo com o plantel leonino, e lamenta “que neste mercado de inverno não tenham resolvido algumas lacunas, principalmente nas alas defensivas, o Sporting está no quarto lugar, mesmo tendo ganho a Taça da Liga, a equipa não está equilibrada”, mostra preocupação o antigo vice-presidente leonino.

Abílio Fernandes também não está convencido com o trabalho de Marcel Kaizer. Considera, o antigo dirigente do Sporting, que “o treinador holandês está de passagem pelo futebol português, e que não tinha noção do que vinha encontrar, até porque depois das goleadas o Sporting atualmente já tem dificuldades em marcar golos, os treinadores portugueses rapidamente perceberam o estilo de jogo de Marcel Kaizer”, analisa Abílio Fernandes.

Também o antigo vice-presidente do Benfica questionado sobre a equipa de Bruno Lage acrescenta que o grupo de trabalho ainda tem alguns desequilíbrios no plantel e que não foram resolvidos neste mercado de inverno, “era preciso fazer alguns ajustamentos até pelas responsabilidades que o clube tem no campeonato, Taça de Portugal e Liga Europa”, aponta Gaspar Ramos.

Sobre Bruno Lage, o antigo dirigente encarnado, espera que o jovem treinador consiga fazer um bom trabalho, “mas ainda é cedo para fazer uma avaliação sobre o futuro do técnico no clube, apesar de estar a mostrar que tem capacidade para motivar os jogadores”, e Gaspar Ramos acrescenta que “a atitude dos jogadores com o novo treinador é que tem feito a diferença em comparação com Rui Vitória que já era um líder de balneário desacreditado no clube”.

Os bastidores da rivalidade entre águias e leões

A rivalidade entre Sporting e Benfica já tem 111 anos de história. Foram muitos os jogadores que vestiram as duas camisolas, uns com mais polémica que outros. E no célebre “verão quente” de 1993 com a saída de Paulo Sousa e Pacheco da Luz para Alvalade, Gaspar Ramos recorda esse momento como “uma fase difícil do clube porque não tinha liquidez e permitiu que os jogadores do plantel encarnado fossem seduzidos para jogarem no Sporting”, diz o antigo dirigente.

Mesmo assim Abílio Fernandes refere que “com menos ou mais polémica, isso era normal. Quando o FC Porto levou o Paulo Futre para as Antas, o Sporting respondeu com a contratação de Sousa e Jaime Pacheco”.

O “dia” em que Luís Figo chegou a ser jogador do Benfica

Mas antes deste caso em 1993, houve um outro em que foi a vez do Benfica responder. Relembra Gaspar Ramos, que Luís Figo, então com apenas 17 anos, assinou contrato com as águias em 1989,

“depois do presidente do Sporting, Jorge Gonçalves, ter aliciado o jogador Ali Hassan que estava à experiência no Benfica, falei com ele e pedi-lhe para não o fazer, mas o Jorge Gonçalves avançou, e eu comecei a pressionar alguns jogadores leoninos, entre eles o Luís Figo, que chegou a assinar contrato com o Benfica e com a inscrição a entrar na Federação Portuguesa de Futebol.”

Abílio Fernandes recorda essa história e acrescenta que “depois com a entrada de Sousa Cintra na presidência do Sporting, tudo se resolveu, e o clube conseguiu segurar o jovem jogador em Alvalade”, conta o antigo vice-presidente. Mesmo assim o Benfica “teve que ser indemnizado, porque o contrato de Figo não foi cumprido”, lembrou Gaspar Ramos.

Memórias dos dérbis entre Benfica e Sporting

É inevitável que a memória contemporânea dos jogos entre Benfica e Sporting, encaminhe para dois resultados que todos os adeptos verdes e encarnados recordam; o 7-1 de 1987 e o 3-6 de 1994.

Gaspar Ramos prefere destacar a exibição de João Pinto em Alvalade numa noite chuvosa, já na fase final do campeonato de 1993/1994. O Benfica consegue uma vitória por 6-3 frente ao Sporting, “e na altura a equipa até não estava muito bem, o Sporting tinha uma grande equipa com bons jogadores orientados por Carlos Queiroz”, recorda Gaspar Ramos.

Abílio Fernandes lamenta “a exibição de João Pinto que conseguiu fazer o jogo da vida dele e praticamente deu a vitória ao Benfica, que depois já não deixou fugir o campeonato” e Abílio Fernandes recorda que “Carlos Queiroz entrou para o lugar de Bobby Robson. O treinador inglês foi afastado por Sousa Sintra depois de perder um jogo na Europa, mas na altura liderava o campeonato, mas o presidente Sousa Cintra estava encantado com a possibilidade de ter Carlos Queiroz em Alvalade e optou por esse caminho, que depois no final não correu bem”.

Enquanto na tarde de 14 de dezembro de 1987, o Sporting “esmagou” em Alvalade o Benfica por 7-1. Manuel José treinava os leões e contou com o avançado Manuel Fernandes de mira afinada com quatro golos, para colocar no marcador final um número impressionante.

Um jogo que marcou o destino de John Mortimore na Luz. Gaspar Ramos revela que “depois deste resultado o treinador inglês ficou com a vida difícil na Luz, apesar de vencido o campeonato e a Taça de Portugal. No dia seguinte chamei-o ao meu gabinete e foi despedido. Queríamos um outro tipo de técnico para um projecto europeu, que funcionou nos anos segintes, porque o Benfica foi a duas finais da Taça dos Clubes de Campeões Europeus”, assinala o antigo dirigente das águias.

Vamos às apostas para este dérbi lisboeta?

Sporting e Benfica vão jogar este domingo o encontro número 304 da história dos dérbis de Lisboa. Abílio Fernandes vê um Benfica mais forte, “um empate já não seria mau para o Sporting, mas acredito que vai ser uma boa partida de futebol”.

Já Gaspar Ramos espera um encontro muito tático, “mas vai ser um jogo interessante na procura do erro das partes, porque os dois treinadores vão ter conhecimento das equipas adversárias e vão explorar as debilidades que vão estar do outro lado”.

Fonte:TSF Desporto

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *