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As reacções em torno da detenção de dois jornalistas na cidade da Beira, província de Sofala, não param. Esta quarta-feira, foi a vez do Instituto para a Comunicação Social da África Austral (MISA), capítulo de Moçambique, emitir o seu posicionamento sobre o assunto, que ainda vai fazer correr muita tinta. O MISA-Moçambique diz não ter dúvidas de que se está perante uma manipulação, encenação e abuso de poder.

 

Tal acepção, de acordo com organismo, deriva do facto da detenção dos jornalista não ser sustentada por provas materiais bastantes, senão simples relatos feitos por Manuel Ramissone, proprietário do estabelecimento hoteleiro, para quem, de acordo com o MISA, é corruptor activo e devia ter sido, na ocasião, recolhido pelas autoridades de justiça. Por este facto, o MISA-Moçambique considera ser imprescindível que as autoridades de justiça desencadeiem uma investigação profunda de modo a reposição da verdade dos factos.

 

O MISA-Moçambique, que refere na nota de imprensa ter tomado conhecimento do sucedido no passado dia 09 de Junho corrente, diz que tudo quanto obteve, até ao momento, são duas versões sobre o caso. Uma, das autoridades, que dizem que se fizeram ao local após denúncia feita por Manuel Ramissone, que também é deputado da bancada parlamentar da Frelimo; e outra, a dos jornalistas que relatam terem ido ao encontro do proprietário do complexo hoteleiro com o único objectivo de ouvir a versão sobre os factos e não para receber qualquer valor monetário em troca da não publicação do material. Anotaram ainda os jornalistas, em entrevista a uma canal privado de televisão, que sem que tivessem solicitado, Manuel Ramissone “meteu a mão no bolso a mão no bolso e sacou o valor” e que quando saíam do local repentinamente surgiram 12 agentes que os detiveram.

 

“Pelos factos relatados e dos depoimentos feitos, tanto pelos jornalistas como pelas autoridades, o MISA-Moçambique suspeita que, mesmo tendo havido troca de valores, o que constituiria um caso grave de ética por parte dos jornalistas, caso tal venha a ser provado, existem fortes indícios de manipulação, encenação, mau uso do poder do Estado, assim como uma ligação ilícita entre os procuradores envolvidos e o senhor Manuel Ramissone”, refere a nota de imprensa.

 

“O MISA acredita que a detenção dos jornalistas tem outras motivações que devem ser investigadas. Por isso, para o bem da verdade e da transparência do processo, a Procuradoria da República deve abrir um inquérito interno para averiguar a genuinidade deste caso e o nível de envolvimento dos seus agentes; assim como o deve fazer o Conselho Superior da Magistratura do Ministério Público. (…) O MISA entende que os procuradores ou agentes participaram no processo da consumação do crime, não tendo o feito em flagrante, pois não estiveram no local de passagem, mas se fizeram, de forma muito bem articulada e combinada, para que os jornalistas caíssem na armadilha já criada sob égide do empresário e recebessem o valor. A não detenção do deputado Manuel Ramissone, mesmo estando numa situação de flagrante delito, mostra-se um elemento muito importante para esta cooperação”, defende a organização, em comunicado de imprensa.

 

Os órgãos de justiça, recorde-se, detiveram, na passada segunda-feira, os jornalistas Arcenio Sebastião, correspondente da Deutsche Welle, e Jorge Malangaze, um freelancer, indiciados do crime de corrupção passiva. De acordo com o Gabinete de Combate à Corrupção na província de Sofala, na pessoa do seu respectivo porta-voz, Anastácio Matsinhe, os dois jornalistas são acusados de terem recebido “luvas” em troca da não publicação de uma matéria relacionada à violação das regras do Estado de Emergência que estava sendo perpetrado pelo estabelecimento hoteleiro Manuel Ramissone.

 

O MP refere que os dois jornalistas terão fotografado e filmado o estabelecimento hoteleiro abarrotado de pessoas a consumir bebidas alcoólicas. Tal como referiu o porta-voz do Gabinete de Combate à Corrupção em Solafa, os repórteres chantagearam o proprietário do estabelecimento que, alegadamente, foi orientado pelas autoridades a fingir que aceitava desembolsar os valores como forma de evitar a divulgação do material. Em troca do silêncio, anotou a fonte, os dois escribas receberam 5 mil Mts. (Carta)

Fonte: Carta de Moçambique

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