O PRESIDENTE da África do Sul, Cyril Ramaphosa, considerou ontem que as relações raciais no país permanecem “frágeis”, quase três décadas após a queda do apartheid, em 1994.

O Chefe de Estado sul-africano, que discursava na Cidade do Cabo a propósito do Dia da Reconciliação Nacional, disse que por mais que os sul-africanos continuem a tentar superar as divisões sociais, os desafios profundos e persistentes permanecem na sociedade sul-africana pós-apartheid.

“Podemos ter percorrido um longo caminho desde os dias do racismo institucionalizado, mas estamos perante a realidade de que, para muitos, a reconciliação é algo que ainda não experimentaram”, adiantou Ramaphosa.

O líder sul-africano afirmou que esta situação não é exclusiva do seu país, salientando que este ano, milhares de pessoas em todo o mundo levantaram-se para enfrentar o racismo que ainda afecta muitas sociedades, citando o movimento anti-racismo “Balck Lives Matter”.

Sob a bandeira do “Black Lives Matter”, as pessoas falaram, marcharam, e manifestaram-se e escreveram sobre as muitas formas pelas quais os negros continuam a ser discriminados e vitimizados, afirmou Ramaphosa.

“Como sul-africanos, apoiamos o movimento ‘Black Lives Matter’, tendo experimentado uma das formas mais brutais de racismo institucionalizado do mundo e plenamente conscientes de que o racismo continua presente no nosso país em várias formas diferentes”, salientou.

No seu discurso, o Presidente Ramaphosa referiu que a verdadeira reconciliação na África do Sul não será possível se não forem resolvidos os imensos problemas que prevalecem na sociedade sul-africana.

“Não podemos construir uma sociedade verdadeiramente solidária enquanto a maioria do país viver em condições de pobreza, desigualdade e privação, e enquanto uma minoria viver em conforto e privilégio”, declarou Ramaphosa.

Nesse sentido, o Chefe de Estado sul africano sublinhou a necessidade de o governo implementar políticas de transformação económica, acção afirmativa e reforma agrária por forma a que o processo de reconciliação seja significativo.

“Não podemos construir uma sociedade que permita melhorar a vida do indivíduo quando os recursos destinados ao benefício do povo são roubados por aqueles que se dizem servidores públicos”, salientou.

Na óptica do estadista sul-africano, que também é presidente do Congresso Nacional Africano (ANC, sigla em inglês), o partido no poder, a “reconciliação” da sociedade na África do Sul democrática “permanecerá para sempre fora do nosso alcance, enquanto não superarmos a pobreza, a desigualdade e o subdesenvolvimento que afectam a maioria [da população] neste país”.- (LUSA)

Fonte:Jornal Notícias

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