O Sporting-Porto deste sábado não é decisivo na luta pelo título, pelo menos para os portistas, dada a sua atual vantagem sobre a concorrência, mas é crucial para os leões que, em caso de derrota, terminam a primeira volta com menos 11 pontos do que os dragões. Também por isso, se espera um clássico mais aberto e espetacular do que tem sido habitual nos últimos tempos.

Em Alvalade, na receção ao Porto, o Sporting joga pela manutenção do estatuto de candidato ao título (está a oito pontos do Porto, se perder fica a 11), mas também, indiretamente, pela competitividade do campeonato no que diz respeito à luta pelo cetro nacional.

Mesmo que estejamos apenas no fim da primeira volta, a esmagadora maioria dos observadores considera que se o Porto ganhar no reduto do Sporting fica, pelo menos, bem lançado para renovar o título. A sua vantagem passaria a ser de sete pontos sobre o Benfica, oito sobre o Braga e onze sobre o Sporting.

Recorde-se que desde 1995/96 – quando as vitórias passaram a valer três pontos – nunca uma equipa deixou fugir o título depois de chegar ao fim da primeira volta com uma vantagem superior a quatro pontos, relativamente ao segundo classificado.

Espera-se que o “desespero” leonino e o relativo à vontade portista possam resultar num clássico em que, finalmente, o desejo de vencer se sobreponha ao medo de perder, que tem dominado os últimos jogos entre os três grandes do futebol português. Os encontros mais recentes entre Porto, Benfica e Sporting têm sido praticamente jogos “sem balizas”, caracterizados por escassas oportunidades de golo e ainda menos golos. Só para que se tenha uma ideia, nos últimos 15 clássicos registaram-se nove empates e somente foram marcados 18 tentos (ligeiramente acima da média de um golo por jogo).

O trauma do Porto e a fragilidade do Sporting

Os outros candidatos vão torcer pelo Sporting e ficar à espera que o Porto volte a falhar no terreno onde mais tem falhado nos últimos dez anos. Os dragões já não vencem em Alvalade, para todas as competições, exatamente há uma década. São nada mais nada menos do que 13 jogos consecutivos sem vitórias em casa do Sporting: desde novembro de 2008, seis derrotas e sete empates.

Já não se via uma série assim desde os anos cinquenta – década durante a qual o Porto não venceu em Alvalade -, somando 17 jogos sem ganhar (14 derrotas). Aliás, diga-se que entre 1922 (primeiro jogo oficial entre as duas equipas) e 1962, o Porto somente venceu uma vez no reduto leonino (em 1949).

No que diz respeito a jogos de campeonato, o registo do Porto em Alvalade nos últimos 10 anos é o o seu pior na condição de visitante:quatro derrotas e cinco empates. Note-se que, por exemplo, no Estádio da Luz o Porto conseguiu quatro vitórias em jogos da Liga no mesmo período.

Claro que estes dados históricos, mesmo que recentes, têm um peso relativo. Até porque é um facto que, da temporada transata para a atual, houve uma crise estrutural no Sporting, com alterações profundas no plantel que afetaram a própria identidade da equipa.

Saíram do clube nomes como Rui Patrício, Adrien Silva, William Carvalho, Gelson Martins ou até Brian Ruiz. Ora, o Sporting teve durante vários anos o segundo plantel mais estável da I Liga, em termos de permanência média dos seus jogadores, logo a seguir ao Benfica. De repente, passou de uma permanência média dos seus jogadores de cerca de três temporada para somente uma temporada, enquanto o Porto está a fazer o caminho exatamente oposto, tendo agora o segundo plantel mais estável da Liga, com uma permanência média de duas épocas e meia, logo a seguir ao do Benfica (3.15).

Outra consequência da crise sportinguista foi a queda do valor de mercado do respetivo plantel. Nos últimos anos, os grandes mantinham bastante equilíbrio nesta variável, mas na presente época o Sporting descolou e ficou para trás pelas razões conhecidas. Neste momento o seu plantel tem um valor estimado, pelo site “Transfermarkt”, de 161 milhões de euros, contra 276 milhões do Porto e 280 do Benfica.

Como chegam Sporting e Porto a este jogo: pontos fortes e pontos fracos

Em termos de desempenho nos jogos mais recentes, a vantagem é claramente portista: 18 vitórias consecutivas em todas as competições (podendo mesmo bater em Alvalade o tal recorde nacional do Benfica de Jorge Jesus, de 2010/11), das quais nove no campeonato (no qual não perde desde a última visita a Lisboa, à Luz).

Já o Sporting sofreu duas derrotas nos últimos três jogos da liga (em Guimarães e em Tondela), somando já quatro derrotas e um empate em 16 encontros. Mas é também um facto que em Alvalade os leões ainda não perderam um único ponto: oito triunfos em oito jogos, mesmo que não tenham recebido qualquer um dos candidatos ao título.

Além disso, o Sporting vai agora receber a equipa mais forte enquanto visitante, com seis vitórias e uma derrota (na Luz), e que só sofreu quatro golos nas sete deslocações efetuadas.

No campeonato, Sporting e Porto são equipas que se equivalem quase completamente no desempenho ofensivo: os leões têm 33 golos marcados, enquanto os portistas têm 34.

A principal diferença entre as duas equipas regista-se no desempenho defensivo: o Porto sofreu até agora somente 10 golos enquanto Sporting já concedeu 18 (mais do que um golo por jogo, em média).

Acrescente-se que, se os leões melhoraram muito em termos de golos marcados com a chegada de Marcel Keiser, em termos de golos sofridos até pioraram um pouco. No campeonato sofreram sete golos em seis jogos, e nunca conseguiram ficar com a sua baliza a zero. Mas realmente grave é o registo defensivo recente: três jogos, duas derrotas – três golos marcados, quatro sofridos.

Por seu lado, o Porto é uma das equipas da Europa que permitem menos remates no alvo (2.4 em média por jogo, contra 3.9 do Sporting), o mesmo se passando com os números relativos a oportunidades concedidas (2.3 do Porto contra 3.8 do Sporting). Apesar disso, é importante sublinhar que o registo defensivo portista piorou nos últimos oito encontros de todas as competições, com 10 golos sofridos.

Tanto Porto como Sporting sofrem a maior parte dos seus golos em ataque organizado do adversário, mas os leões devem-se preocupar com os três tentos concedidos em jogadas de ataque rápido nos últimos quatro encontros.

Sporting de ataque, Porto de contenção?

Desde a chegada de Keiser ao banco do Sporting, a equipa passou a marcar mais golos, crescendo também muito em termos de números ofensivos: mais posse de bola, mais remates (assim como mais ocasiões de golo, mais remates no alvo e dentro da área adversária), aproximando-se muito dos dados de Porto e Benfica, neste particular. Estando praticamente obrigados a vencer os dragões, será de esperar que os leões assumam claramente as despesas do jogo, ainda que com as devidas precauções perante um adversário que sabe aproveitar os desequilíbrios defensivos do oponente.

Esse é desafio principal para o treinador holandês: colocar a equipa a jogar de forma muito ofensiva sem perder o equilíbrio, até porque do outro lado está a formação mais forte do campeonato nos duelos individuais: o Porto é a equipa que mais utiliza o drible (16.8 em média por jogo, contra somente 11.4 do Sporting), sendo simultaneamente especialista em aproveitar os espaços nas costas da defesa contrária, com Marega a destacar-se neste papel.

O outro aspeto em que o Sporting terá que ter cuidados redobrados é nas bolas paradas. O Porto lidera no números de golos obtidos desta forma, se não contarmos os golos de grande penalidade (em que o Sporting é rei do campeonato, com oito): nove golos marcados pelos portistas na sequência dos chamados “esquemas táticos” contra oito do Braga, quatro do Sporting e três do Benfica.

Quem pode desequilibrar o clássico?

Em termos de destaques individuais na antevisão deste clássico é impossível fugir a um nome: Bas Dost. É que há notoriamente um Sporting com Dost e outro sem o holandês. E torna-se mesmo difícil evitar o lugar comum da Bas Dost-dependência deste Sporting.

O holandês só jogou 10 encontros (dos quais oito completos) no campeonato mas é o segundo melhor marcador da prova, com 10 golos. Com ele, a equipa perdeu um jogo (em Guimarães); sem ele, perdeu três. De tal forma que a média de pontos conquistados por jogo pelo Sporting com Dost é de 2.7 (superior à do Porto); sem Dost é de 1.2 (ao nível dos décimos segundos do campeonato, Setúbal e Tondela).

Na Liga, Bas Dost marca, em média, a cada 77 minutos. Dyego Sousa, melhor marcador do campeonato, tem 11 golos em 16 jogos, faturando a cada 106 minutos. Claro que se pode argumentar que seis dos 10 golos do holandês foram obtidos de penálti, mas também é um facto que Dost “conquistou” quatro dessas grandes penalidades.

Os números são incontornáveis: 71 golos em 71 jogos do campeonato. E no entanto, a Bas Dost pode aplicar-se a mesma ideia que a Jonas ou a Marega, por exemplo: marca pouco aos outros grandes. O avançado-centro leonino ainda não se estreou nesse particular frente ao Porto (e esta vai ser já a quinta vez que defronta os dragões) e ao Benfica apenas apontou um tento em quatro partidas.

Mas esta é uma lacuna que Bas Dost pode anular a qualquer momento, tal é a sua relação com o golo e com as oportunidades de golo: em média precisa apenas de 1.5 ocasiões claras para concretizar, o que deixa toda a concorrência longe, incluindo Jonas ou Dyego Costa.

Já no Porto, apostamos em dois jogadores como prováveis protagonistas do clássico deste sábado, essencialmente pelo momento de forma que atravessam: Brahimi e Corona. Mas a sua importância pode ser ainda maior neste partida porque nos parece que Sérgio Conceição poderá optar pelo 4-3-3, com Marega sozinho na frente, dois extremos para explorar as debilidades defensivas do Sporting nas alas (exatamente Corona e Brahimi) e três homens no meio campo para fazer frente ao futebol de posse defendido por Keiser.

Note-se que Brahimi é o jogador mais desequilibrador do campeonato em termos de duelos individuais: ninguém efetua mais dribles bem sucedidos (2.8 por jogo), e tem sido decisivo nos últimos jogos – três golos em quatro oportunidades, nos derradeiros cinco encontros da Liga, nos quais teve ainda duas participações diretas em golo.

Quanto a Corona, não é por acaso que o flanco direito tem dado tantos golos ao Porto. Corona está em grande momento, com participação determinante em cinco dos últimos seis golos do Porto no campeonato, ou seja, em todos os golos de bola corrida.

Nota: a antevisão do Sporting-Porto ocupou a maior parte da mais recente edição do Números Redondos (na antena da TSF às sextas-feiras, às 20.30) , sendo que o presente texto tem a vantagem de já ter em conta os resultados das deslocações de Braga (1-1 em Portimão) e Benfica (vitória por 2-0 nos Açores).

Fonte:TSF Desporto

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