“O homem é bom por natureza. É a sociedade que o corrompe” (Jean-Jacques Rousseau). 

É assim que decidimos iniciar a crónica de hoje, trazendo à tona o célebre pensamento de um dos filósofos mais renomados do Iluminismo. Nessa linha, urge-lhe um convite de reflexão sobre a bondade natural do ser humano e como as estruturas sociais podem corromper essa essência. Vale ressaltar que qualquer semelhança com factos reais é, de certeza, pura coincidência.

Vemo-nos em um mundo onde a posse material é mais valorizada do que o valor moral da sociedade. Aqui, as pessoas não reclamam pela injustiça, mas sim pelo que os outros ganham, sentindo-se prejudicadas por isso. Até parece que não sabemos o que, realmente, queremos ou precisamos. Parece até que o que desejamos é que os outros não desfrutem de seus momentos. Queremos que eles sejam meros espectadores do nosso sucesso, pois acreditamos que só nós merecemos ter oportunidades, quantas vezes forem possíveis, mas apenas as nossas oportunidades. Nunca as dos outros.

Mas aí vem a questão: de que sociedade estamos a tratar quando falamos “normal”? Aquela que vive de novos talentos? “One, Two, Three, Let’s go!”? Ou o que mais importa é acreditarmos ser o que pensamos ser e descontarmos o que realmente nos interessa devido às dificuldades de circunstâncias? Não há condições para uma sanidade mental. Então, conformemo-nos e pronto. Vamos normalizar o que temos, por mais podre e doentio que seja. 

Alguns dos poucos analistas e intelectuais que temos dentro destas quatro paredes da pátria defendem, com seus A’s + B’s, que é a sociedade que está corrompida por ser aliada do sistema, e, portanto, a culpada pela existência de todo o mal na face da Terra. E mais, os legisladores saem dela. Mas quem quer ser bom num mundo onde a pobreza afia suas unhas e garras? Então, dizem que é daqui que se origina o ciclo de vez-vez.

É de admirar como, em tempos de fome e necessidade, os bons samaritanos se destacam como nobres santos da Idade Média. Nesses momentos, a humildade torna-se uma virtude sagrada, elevando o espírito humano a um patamar quase intocável, onde até uma mosca não pode ser morta.

Aqui, estamos naquele tempo em que muitos ainda se apresentam de uma maneira em palavras, mas suas acções revelam outra verdade. Vivemos uma era de dissonância entre o discurso e a prática, onde a retórica de bondade e integridade é frequentemente desmentida por comportamentos que contradizem essas virtudes.

O que dizer sobre a corrupção? Todos os dias, as pessoas reclamam, são vigilantes e críticos da moral alheia, mas, quando são promovidas, esquecem que antes eram aquelas que sofreram e sonhavam com uma sociedade justa. Quando assumem posições de poder, acabam também se envolvendo em práticas corruptas. O que é mais lamentável é que poucos realmente pensam no bem comum.

‟Phoole-phoole”, há muito que se anda em contra-mão, pisca-se para a esquerda e segue-se para a direita. Agora, o lema é “vano timi”. Chegou a minha vez.

Fonte:O País

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