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A cidade e província de Maputo, como em quase todo o país, estiveram debaixo de fogo cruzado durante dois dias, quinta e sexta-feira, em cumprimento dos dois dias de manifestações anunciados pelo candidato do partido PODEMOS, Venâncio Mondlane, em protesto contra os resultados das eleições gerais de 9 de Outubro.

 

A intensidade das manifestações foi maior na quinta-feira, devido à divulgação dos resultados eleitorais, considerados fraudulentos pela oposição. “Carta” foi às ruas no último sábado para inteirar-se dos danos causados pelos manifestantes em várias artérias da cidade de Maputo e Matola.

 

O ponto de partida foi a rotunda da nova fábrica da Coca-Cola, na estrada circular de Maputo, em direcção ao Zimpeto, onde durante todo o percurso ainda eram visíveis estilhaços de garrafas quebradas, marcas de pneus incendiados, pedras lançadas na estrada para serem usadas como barricadas e sinais de trânsito removidos dos seus lugares.

 

Os residentes das proximidades da Circular relataram que a noite de quinta-feira não foi fácil, pois a polícia lançou gás lacrimogéneo, inclusive nas residências, atingindo até crianças. Entretanto, no sábado, carros blindados patrulhavam a Circular para garantir que os manifestantes não saíssem às ruas.

 

Enquanto fazíamos a ronda, um carro da Rede Viária de Moçambique (REVIMO) também ia circulando para registar em fotos os principais danos ao longo da via.

 

Nas proximidades da portagem da Matola-Gare, alguns agentes de limpeza tentavam recolher os vestígios dos pneus incendiados e os estilhaços de garrafas. Um facto curioso é que, ao longo da Circular, foram colocadas barricadas feitas com o material de concreto usado para proteger os postes de iluminação, ou seja, os manifestantes conseguiram remover essas pedras pesadas e colocá-las no meio da estrada.

 

No mesmo percurso, o pavê tinha sido removido e utilizado como entulho para impedir a circulação de veículos. Na segunda Rotunda, para quem sai do Zimpeto em direcção à Matola, encontramos duas viaturas incendiadas na estrada e um pequeno contentor de venda de recargas a grosso vandalizado. Em conversa com alguns vendedores, estes relataram que os ocupantes das viaturas saíram ilesos, tendo perdido apenas os seus bens.

 

Enquanto isso, na primeira Rotunda da Circular de Maputo, foi saqueado um estabelecimento de venda de bebidas alcoólicas “Alex Botle Store”, pertencente a um cidadão de nacionalidade ruandesa. Outro saque ocorreu num talho ao lado do Botle Store, onde os manifestantes conseguiram retirar quase todas as carnes e bebidas.

 

Durante nossa ronda, a nossa reportagem soube que um incêndio deflagrou na escola do bairro do Intaca, na Matola, onde duas secretarias foram reduzidas a cinzas e não restou sequer um processo para contar a história de um aluno que por lá tenha passado.

 

No Mercado Grossista do Zimpeto, que movimenta centenas de vendedores e compradores, o comércio já tinha voltado à normalidade, facto comprovado pelo engarrafamento que se registava naquele troço. Da ponte do Zimpeto até ao cruzamento da Missão Roque, ainda eram visíveis alguns pneus queimados, mas sem nenhum dano. O mesmo aconteceu no percurso que vai até Magoanine, onde a estrada estava toda coberta de preto devido aos pneus incendiados.

 

Um pouco antes da Praça dos Combatentes, precisamente no cruzamento do Expresso, os manifestantes removeram dois semáforos, cujos vestígios ainda se encontravam no local. Já da Praça dos Combatentes até a da OMM, passando pela Vladimir Lenine, o cenário era de pedras na estrada, marcas de pneus incendiados e lixo arrastado para a via.

 

Na Avenida Joaquim Chissano, palco de vários confrontos entre os agentes da Unidade de Intervenção Rápida (UIR) e os manifestantes, ainda era possível ver barricadas que bloqueavam parte da estrada. Neste percurso, todos os painéis publicitários contendo a foto do candidato presidencial da FRELIMO, Daniel Chapo, foram quebrados e outros danificados, causando danos significativos às empresas publicitárias.

 

Em frente ao Centro de Saúde de Xipamanine, também foram quebrados dois semáforos e jogados ao chão. Na sua ronda, “Carta” passou pela Brigada, onde os rastos continuavam visíveis ao longo da estrada. Ao longo dos dois dias de manifestação, o transporte interprovincial de passageiros ficou também prejudicado, particularmente no terminal da Junta.

 

“Na quinta-feira, nenhum carro saiu deste local, mas na sexta-feira teve que sair um autocarro que ia à província de Tete. Este teve que levar também os passageiros que iam a outras províncias, pois não havia outros carros dispostos a sair, para além de que os passageiros eram poucos”, explicou o representante dos transportadores, Gil Zunguze.

 

Em bairros da Matola, como T3, Zona Verde, Machava, Ndlavela e Nkobe, o cenário se repetia: pneus incendiados, garrafas quebradas no chão, pedras jogadas no meio da estrada, mas o comércio fluía normalmente e o transporte até sobrava. Na Matola-Gare, uma loja da Vodacom que, além de vender telemóveis, dedicava-se à venda de plasmas, foi assaltada pelos manifestantes, que quebraram os vidros e arrombaram o estabelecimento na noite de quinta-feira.

 

Em relação às detenções, “Carta” apurou que foram registadas mais de 100 ocorrências em quase todos os bairros da província e cidade de Maputo, sendo de destacar um número elevado de menores. Graças à intervenção e colaboração da Ordem dos Advogados de Moçambique (OAM), mais da metade dos detidos já se encontra em suas residências.

 

Até aqui, os dados da Plataforma Eleitoral DECIDE indicam que a cidade de Maputo não registou nenhuma morte nos dois dias de manifestações, mas a província de Maputo notificou três óbitos. Em relação ao número de feridos, o Hospital Central de Maputo (HCM) prometeu pronunciar-se esta segunda-feira (28). (M. Afonso)

Fonte: Carta de Moçambique

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