As eleições desta quinta-feira na Zâmbia foram marcadas por confrontos que resultaram na morte de duas proeminentes figuras políticas deste país. Trata- se do presidente da Frente Patriótica (FP) na província do Noroeste, Jackson Kungo, e um irmão do vice-secretário permanente da mesma província Emmanuel Chihili.

 

Reagindo ao incidente, o presidente Edgar Lungu descreveu o assassinato dos dois militantes da Frente Patriótica como chocante e expressou abalo com a violência nas províncias do oeste, noroeste e sul, apelando, entretanto, calma aos membros da Frente Patriótica. Entretanto, Lungu acusou a oposição pelos assassinatos e instruiu o comandante do exército da Zâmbia a reforçar rapidamente a segurança no noroeste e em algumas partes das províncias do oeste e do sul, onde se registam focos de violência sem precedentes.

 

Lembre-se, há cerca de uma semana, o presidente da Zâmbia ordenou o desdobramento do exército e da polícia para manter a segurança durante o processo eleitoral e, na sequência, a Alemanha saudou o destacamento das Forças de Defesa e Segurança para manter a ordem e a paz durante as eleições realizadas ontem com significativa afluência às urnas.

 

A embaixadora alemã acreditada em Lusaca, Anne Wagner-Mitchell, disse que as forças de segurança têm um papel importante a desempenhar antes, durante e depois do anúncio dos resultados eleitorais.

 

Mídia social bloqueada durante o dia da votação

 

Todos os sites da mídia social na Zâmbia tornaram-se inacessíveis ontem na altura em que milhões de eleitores procediam à votação. O Facebook, que é a plataforma da mídia social mais usada na Zâmbia, caiu logo depois da hora do almoço, seguido do Twitter e do Whatsapp.

 

Apenas o sinal estava disponível através da rede privada virtual.

 

Muitos usuários das plataformas da midia social ficaram chocados com o bloqueio repentino da mídia social numa altura em que a partilha de informações era crucial. Entretanto, o governo da Zâmbia não comentou sobre o caso, mas, no período da tarde, o Reino Unido condenou o bloqueio das redes sociais no país.

 

O Alto-Comissário do Reino Unido na Zâmbia, Nicholas Woollwy, expressou ao Secretário Permanente da Informação e Radiodifusão a sua preocupação em relação às restrições da mídia social. “A necessidade de transparência no dia da votação é fundamental”, disse o diplomata.

 

Enormes filas foram vistas ontem em várias partes do país numa eleição que poderá ter registado o maior número de eleitores, mas manchada pelo assassinato de dois militantes da Frente Patriótica. A Zâmbia registou um total de 7023499 eleitores e 12152 assembleias de voto.

 

EUA ameaçam imposição de sanções à Zâmbia em caso de fraude

 

Os zambianos foram ontem às urnas com os EUA ameaçando a imposição de sanções aos perpetradores da violência e da manipulação eleitoral. Os Estados Unidos adoptaram uma abordagem punitiva, advertindo que responsabilizarão políticos e indivíduos que cometam actos de violência para minar o processo eleitoral.

 

O Encarregado de Negócios dos Estados Unidos, David Young, disse que o seu país é amigo da Zâmbia e, portanto, responsabilizaria qualquer indivíduo que promover a violência, minar o processo eleitoral e se envolver em comportamento corrupto. Young destacou que a Zâmbia tem um historial louvável de eleições democráticas e que o seu país continuará a envolver todas as partes interessadas por eleições livres e justas.

 

Num comunicado, os Estados Unidos afirmam que vão envolver a Comissão Eleitoral da Zâmbia para que a contagem seja transparente e anuncie publicamente os resultados. O diplomata norte-americano afirmou que o seu país, em conjunto com outros doadores, tem financiado e oferecido assistência técnica para fortalecer a administração eleitoral.

 

“Quando esses esforços para apoiar a democracia não funcionam e os direitos humanos   fundamentais e as liberdades democráticas são violadas, os Estados Unidos podem e aplicam restrições a vistos, proibições de viagens e sanções financeiras. Aplicamos essas medidas porque levamos a sério o nosso compromisso   com os direitos humanos e os princípios democráticos, disse Young.

 

As eleições dependem da participação e dedicação, bem como de funcionários dedicados com a democracia, a defesa do processo democrático e a vontade do povo. Young disse que, a partir de 12 de Agosto e nos dias subsequentes os olhos de todos os zambianos e do mundo estarão observando as acções e as palavras dos candidatos, dos líderes partidários, polícias e militares, e representantes do estado e de quase todas as organizações independentes, sendo que os litígios devem ser resolvidos nos tribunais à luz da lei.

 

Vencedor das eleições desta quinta-feira: Lungu ou Hichilema? 

 

Até ao fecho deste artigo ainda não havia previsões sobre os resultados, sabendo-se apenas que as eleições foram muito disputadas. Dezasseis candidatos concorreram às presidenciais, mas apenas Lungu ou Hichilema poderão ganhar a chefia do Estado. Hichilema perdeu as seis eleições que disputou desde 2006 e esta foi a terceira disputa de Edgar Lungu. Em 2016, Hichilema perdeu para Lungu por menos de cem mil votos.

 

O África Confidential refere que alguns quadros da Frente Patriótica do Presidente Lungu expressaram dúvidas em privado de que o seu partido pudesse ganhar uma eleição livre e justa. Eles admitem que, mesmo com as vantagens do partido no poder e a possibilidade de manipulação da contagem dos votos, a oposição poderia ganhar.

 

Uma pesquisa interna do partido de Hichilema, que já foi detido por quinze vezes, mostra que este obteria 65 por cento dos votos. Mas alguns analistas colocam a hipótese da segunda volta se não houver uma maioria de 50 por cento dos votos.

 

Um relatório do Afro barómetro indica que o número de votantes na Frente Patriótica de Edgar Lungu caiu de 44,8 por cento, em 2017, para 22,9 por cento, em Dezembro de 2020.

 

Analistas e observadores temem que possa haver violência e instabilidade após as eleições desta quinta-feira se nenhuma das partes aceitar os resultados eleitorais.

 

Antigo presidente da Zâmbia, Rupiah Banda, deixa recados

 

O ex-presidente da Zâmbia, Rupiah Banda, pediu respeito pela vontade dos eleitores, exortando os candidatos dos partidos políticos a aceitar o resultado da eleição, já que todas as eleições têm vencedores e vencidos.

 

O quarto presidente da Zâmbia acrescentou que, qualquer tentativa de qualquer entidade, agindo sozinha ou com consentimento de outros para impor uma liderança fora do conceito de “um homem, um voto” será um ataque aos fundadores do país. Referiu ainda que isso prejudica a soberania e a independência do país e também prejudica a paz e a unidade da geração actual e das vindouras.

 

Os partidos políticos devem usar o judiciário para contestar os resultados eleitorais se estiverem insatisfeitos, disse o ex-presidente. Banda, que admitiu a derrota a favor do falecido presidente Michael Sata, em 2011, acrescentou que os vencedores devem permanecer humildes e mostrar respeito com os vencidos e avisou que os vencidos devem aceitar a derrota, felicitar os vencedores e se reorganizar para a próxima eleição.

 

Refira-se que, um pouco antes da eleição desta quinta-feira, o Presidente Edgar Lungu descreveu o Partido Unido para o Desenvolvimento Nacional de Hakainde Hichilema (HH) como um “bebê chorão perpétuo” porque não quer admitir a derrota sempre que perde uma eleição.

 

Isso levou o presidente Lungu a desafiar os observadores eleitorais estrangeiros para ajudar a Zâmbia a lidar com a “síndrome de bebê chorão. (F.I)

Fonte: Carta de Moçambique

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