João Figueiredo
O presidente da Câmara de Comércio Portugal-Moçambique, João Figueiredo, alertou, esta sexta-feira (2), juntamente com outros empresários, que o aumento das reservas obrigatórias exigidas aos bancos comerciais moçambicanos pode ter consequências imprevisíveis no sistema financeiro do País.
 
 
 A medida pode “abanar o sistema financeiro, principalmente nos bancos mais pequenos, com consequências que hoje não conseguimos medir”, referiu, num encontro entre o Banco de Moçambique (BdM) e a Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA).
 
 
O dirigente, com carreira feita na banca moçambicana e, actualmente, presidente não executivo do Moza Banco, considera os novos coeficientes “verdadeiramente insustentáveis”.
 
 
Em causa está o aumento das reservas que os bancos têm de manter junto do banco central (dinheiro estacionado, sem remuneração): o regulador decidiu na quarta-feira subir os coeficientes para 39% dos passivos (caso dos depósitos) em moeda nacional, e 39,5% no caso de moeda estrangeira.
 
 
Foi a segunda subida do ano, sendo que, no início de 2023, eram de 10,5% e 11,5%, respectivamente.
 
 
O BdM justificou a acção “visando absorver a liquidez excessiva no sistema bancário, com potencial de gerar uma pressão inflacionária”, mas os empresários acham que a decisão vai fazer aumentar os juros, tornar ainda mais caro contrair financiamento, essencial numa economia de pequenas e médias empresas, que vão ter mais dificuldades.
 
 
Oldemiro Belchior, vice-presidente do pelouro de Política e Serviços Financeiros da CTA, referiu no mesmo encontro que a decisão “vai colocar desafios para os bancos”.
 
 
“Vemos dificuldades de alguns bancos de pequena e média dimensão em cumprir com estes requisitos”, ainda para mais numa altura em que “não estão a conseguir converter de forma rápida os depósitos que captam em crédito, porque as taxas de juro de mercado estão relativamente altas e a procura é cada vez mais deprimida”, disse.
 
 
Ou seja, há desafios “tanto do lado da procura – quem consome crédito – como da oferta – quem o concede”, e a discussão fica séria porque “a actividade empresarial ainda é essencialmente financiada pela banca”.
 
 
“É tempo de Moçambique pensar em fontes alternativas de financiar a economia”, acrescentou.
 
 
Como exemplo, João Figueiredo sugeriu que sejam criadas linhas para sectores estratégicos e que esses financiamentos sejam abatidos nas reservas obrigatórias – ideia anotada pelo BdM, referiu a administradora presente no encontro, Silvina Abreu.
 
 
Ao mesmo tempo, apelou ao banco central, como “conselheiro do Estado”, que tente puxar por medidas de âmbito fiscal para contrabalançar as de política monetária.
 
 
O aumento das reservas pode até prejudicar as metas de inclusão financeira, disse, dando o retrato de bancos que abrem balcões pelo País, mas depois não conseguem dar crédito porque, de cada milhão, 400 mil são colocados sem remuneração no banco central.
 
 
Silvina Abreu sugeriu que a banca use formas mais “criativas” de viabilizar o financiamento à economia. “Nesta questão de levarmos, como todos queremos, as taxas de juro para patamares mais baixos, todos os intervenientes devem fazer o seu papel”, disse, recordando que o mandato do BdM é garantir a estabilidade da moeda (metical) com inflação baixa.
 
 
“Nós achamos que é necessário que seja consentido um momento, no curto prazo, em que a economia – por causa dos efeitos da política monetária – pode estar a ‘sangrar’, digamos assim, mas para um bem maior”, referiu.
 
 
“Estamos a lutar para que, depois, o efeito seja uma redução da inflação em que todos os agentes económicos que estão a operar no mercado possam tirar benefício disso, incluindo as famílias”, concluiu.  (Lusa)

Fonte: Carta de Moçambique

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