A falta de alimentos está a agravar-se em zonas do interior  na província de Cabo Delgado por causa dos ataques causados por grupos armados que têm levado a população a abandonar terras, alerta um relatório ontem divulgado.

Em vez de haver um risco mínimo de insegurança alimentar, passou a haver “uma situação de ‘stress’ em áreas afectadas por ataques em Cabo Delgado, onde as famílias são forçadas a abandonar suas casas”, refere o relatório da Rede de Sistemas de Alerta Antecipado de Fome (FEWS Net, sigla inglesa), consultado pela Lusa.

Fontes do Governo, citadas no relatório, indicam que “muitos agregados familiares deslocados regressaram às suas aldeias nos últimos meses, enquanto o Governo em coordenação com o Programa Alimentar Mundial (PAM) presta assistência humanitária aos retornados”. 

No entanto, a rede de vigilância nota que, “recentemente, ocorreram mais ataques, com potencial para aumentar o número de deslocados”.

“Se houver mais famílias sem acesso a alimentos e sem realizar actividades agrícolas, a segurança alimentar pode deteriorar-se”, acrescenta.

Numa escala de insegurança alimentar de 01 a 05 (de risco mínimo até fome, respectivamente), a rede coloca a zona litoral da província de Cabo Delgado no nível dois, mas se os ataques continuarem “podem surgir sinais de nível 03 (crise)”.

Desde Outubro de 2017 que grupos armados atacam aldeias remotas de Cabo Delgado, fazendo um número indeterminado de mortos, na ordem das dezenas, e um número ainda maior de deslocados.

Depois de terem surgido associados a cultos muçulmanos radicais, nomeadamente, numa mesquita de Mocímboa da Praia, os grupos que têm atacado as aldeias nunca fizeram nenhuma reivindicação nem deram a conhecer as suas intenções, mas investigadores sugerem que a violência está ligada a redes de tráfico de heroína, marfim, rubis e madeira.

A insegurança alimentar regista riscos mínimos na maior parte do resto do país, ou seja, situa-se no nível 01, acrescenta o relatório hoje divulgado, com excepção para situações de crise (nível 03) no Sul (províncias de Gaza e Inhambane) e no interior oeste (Tete).

O documento justifica a situação com uma colheita fraca.

“Devido aos resultados fracassados da colheita de 2018, ou significativamente abaixo da média, a situação de crise está presentes em áreas semi-áridas das regiões sul e central”, aponta o documento.

A previsão meteorológica de médio prazo aponta para uma “redução das chuvas” a sul, o que “provavelmente atrasará a disponibilidade de alimentos” fazendo com que, até Janeiro, “mais famílias enfrentem uma situação de crise” no acesso a alimentos, conclui.

O relatório da FEWS Net actualiza um outro publicado em Junho em que eram apontados sinais de crise (nível 03) no sul de Moçambique.

A maioria da população do país pratica agricultura de subsistência, tirando das suas hortas os produtos com que as famílias se alimentam.

A rede FEWS Net foi criada pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), em 1985, para apoio à tomada de decisões na gestão de apoio humanitário.

    Fonte:Jornal Notícias

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