Hélder Jauana e Alberto da Cruz afirmam que a polícia tinha tudo para evitar a violência que usou na dispersão dos manifestantes e questionam o silêncio do Presidente da República perante os protestos e a morte de Elvino Dias e Paulo Guambe.

Durante a manifestação pública desta segunda-feira, a polícia recorreu ao gás lacrimogéneo para dispersar os manifestantes e evitar que os jovens apoiantes de Venâncio Mondlane conseguissem circular nas artérias da cidade em cumprimento da palavra do seu líder.

Entretanto, para os comentadores residentes do programa Noite Informativa desta segunda-feira, Alberto da Cruz e Hélder Jauana, a acção da polícia pode ter sido vil e intolerante, a avaliar pela força empregada para afastar os presentes na Praça da OMM e não só. Alberto da Cruz diz que houve excesso de zelo e abuso de poder.

“Houve um excesso de zelo, houve um abuso de poder e, mais do que isso, houve um atentado à liberdade de expressão. Ou seja, os jornalistas devem, têm o direito de se sentir atacados pela polícia, porque ali o jornalista não tinha pau, senão um microfone e uma câmara e estava a tentar entender, de quem convocou as manifestações, o que vai ser ou como pretende de hoje em diante conduzir esse movimento ou então aquilo que ele colocou como ambiente, vamos assim dizer, de contestação das eleições”, disse.

Hélder Jauana, que também critica o uso da violência por parte da polícia, chama a atenção dos líderes das manifestações para conterem os ânimos, sob risco de mergulhar o país no caos. Segundo o analista, “é importante deixar os órgãos eleitorais apresentarem os resultados e o PODEMOS e todos os outros partidos que concorreram têm de fazer a sua contestação à CNE e ao Constitucional, têm. Este é um elemento que é muito importante para quem faz política perceber. Não é o poder pelo poder, a todo o custo, significando até levar filhos de pessoas que vão à rua e perdem a vida”.

Para além de contestar a morte de Elvino Dias e Paulo Guambe, Da Cruz diz ser evidente que os jovens anseiam por mudanças no país.

“A forma como o Estado foi capturado por indivíduos e não sabemos qual é o seu maior interesse. Então todas essas questões têm de vir à mesa quando estivermos a debater a questão das manifestações, porque isto não é uma questão de eleição. Se fosse uma questão de eleição, os meninos iam dizer que nós estamos pelo PODEMOS, mas disseram que não, não estamos. Nós estamos pelo melhoramento das nossas condições, das condições dos nossos irmãos e das gerações vindouras”, defende Alberto da Cruz.

Entretanto, para Jauana, à semelhança de Elvino Dias e Paulo Guambe, mortos a tiro, há, também, no país várias pessoas mortas diariamente por aqueles que chama de “lambe-botas”.

“Eu não sei ao longo destes anos quantas vezes eu morri profissionalmente, porque cada um de nós é assassino. Elvino Dias e o Paulo Guambe, tiraram-lhes a vida, mas há quem nos tira sonhos, há quem nos tira sonhos. Nesta sociedade, temos muitos assassinos diários. Nós precisamos de mudar este país, é preciso mudar. Há gente que todos os dias acorda para assassinar sonhos de pessoas, acorda para assassinar profissionalmente pessoas. Não mata a tiro, mata de outra forma”, lamenta Jauana.

Os analistas lamentam, ainda, o silêncio do Presidente da República Filipe Nyusi, no contexto do duplo assassinato de sexta-feira e manifestações desta segunda-feira.

Fonte:O País

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