Ilhas Reunião e França, os novos palcos do Incêndios

Espectáculo teatral será apresentado nas Ilhas Reunião e em França, no segundo semestre, depois de ter sido considerado um dos 10 melhores exibidos em Portugal, ano passado.

 

O teatro tem por vezes a capacidade de falar do mundo, “abrir consciências” ou, pelo menos, tentar fazer com que as palavras dos artistas possam levantar questões. O posicionamento é de Victor de Oliveira, actor moçambicano que vive em França há mais de 20 anos. Pelo facto de o teatro ter a capacidade assumida por De Oliveira, a peça Incêndios, por si encenada, será levada a uma digressão internacional ainda este ano.

O primeiro país que deve receber o espectáculo encenado por Victor de Oliveira, a partir do texto original do escritor libanês-canadense, Wajdi Mouawad, é Ilhas Reunião. Em princípio, naquela parte de África, os actores moçambicanos irão apresentar-se em Setembro, concretamente no Centre Dramatique National. Depois, entre meados de Novembro e Dezembro, a digressão irá avançar para França, onde pela primeira vez, segundo o encenador, um grupo de actores moçambicanos apresentará um espetáculo num teatro nacional francês, o Théâtre National de Bretagne, dirigido por Arthur Nauzyciel. 

Esta será a segunda vez que Incêndios escala Europa, depois de Portugal, em Dezembro. Ainda assim, saber que a história recente de Moçambique será exposta, através da ficção, a um público europeu de profissionais e a um grande público francês que sabe muito pouco da história moçambicana é uma grande alegria para Victor de Oliveira. Até porque, adianta o encenador, “faremos também o espectáculo em outros grandes teatros franceses como o Grand Théâtre de Nantes (cidade francesa onde está o memorial da escravatura), o Teatro Municipal de Vitré, a Scène National de Chatenay-Malabry, a Scène National de Belfort, e, sobretudo, em dois imensos teatros do panorama europeu como a MC93 (Maison de la Culture de Seine Saint-Denis) e o 104, no centro de Paris. Tudo isso nos deixa extremamente felizes e é um grande orgulho levar a história de Moçambique a estas instituições. E se isso é possível, eu sei que o devo muito ao grupo de artistas moçambicanos com quem trabalho, ao seu empenho e ao seu talento. E penso que seria importante que eles tivessem, de uma certa maneira, um reconhecimento do seu trabalho”. 

Na óptica de Josefina Massango, conhecer outros públicos e partilhar o sentimento que se tem é algo muito positivo. “Esta grande produção toca-nos a todos e é especial podermos apresenta-la em França, um país com grande capacidade cultural e reconhecimento no campo das artes e do teatro em particular. Esta digressão pode ampliar as oportunidades para os actores, sobretudo para os que estão a começar”.

Segundo considera Josefina Massanfo, a digressão em França significa actuar no palco do mundo. E, para Sufaida Moyane, França é uma escola aonde vai buscar conhecimentos: “Sou uma caçadora de experiências e em formação. Importa, para mim, que trabalhe com pessoas e espaços diferentes. E quando digo espaços, refiro-me a salas e países. Ir a Ilhas Reunião e a França é uma outra conquista. Esta será a minha segunda vez a actuar num país que não fala português. Será importante perceber como as pessoas vão receber a peça. Preciso dessas histórias e lugares novos para fazer a minha carreira e a minha história no teatro”.

Incêndios estreou em Moçambique em Agosto do ano passado, no Centro Cultural Franco-Moçambicano, na cidade de Maputo. Em Novembro do mesmo ano, o espectáculo foi reposto no Festival Kinani, igualmente na capital do país, e, em Dezembro, viajou para Portugal. Na terra de Camões e Pessoa, Incêndios foi considerado um dos 10 melhores espectáculos apresentados em 2019.

Em termos de história, a encenação de Victor de Oliveira (e Venâncio Calisto como Assistente de Encenção) é uma história de amor, que envolve uma mãe e três filhos, tendo como pano de fundo a guerra civil. O enredo inicia com a morte da personagem Nawal e a leitura do seu testamento. A partir daí, os dois filhos da personagem falecida partem para o país natal da mãe de modo a encontrarem o pai que julgavam estar morto e o irmão de que nunca tinham ouvido falar. Muitas complicações ocorrem nesse trajecto. Na peça estão 10 actores, nomeadamente, Alberto Magassela, Ana Magaia, Josefina Massango, Elliot Alex, Rogério Manjate, Horácio Guiamba, Sufaida Moyane, Bruno Huca, Rita Couto e Eunice Mandlate.

 

 

Fonte:O País

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