NO pior atentado terrorista de sempre, com quase 3.000 mortos, a Al-Qaida atacou o coração da principal potência mundial há 20 anos, e “empurrou” os Estados Unidos para sua guerra convencional mais longa, no Afeganistão.

Qualificado como o “Pearl Harbor do século XXI”, o ataque de 11 de Setembro de 2001 destruiu um dos símbolos da América, as Torres Gémeas do World Trade Center (WTC) de Nova Iorque, e parte do Pentágono.

Se a audácia do Japão, 60 anos antes, tinha sido surpreendente, o 11 de Setembro chocou os EUA – e o mundo – também por ser um acto de violência extrema cometido a partir de algo tão normal como viajar de avião.

O que parecia um acidente, o primeiro avião a chocar com a Torre Norte do WTC em Manhattan, era, afinal, um ataque orquestrado para aterrorizar a América e o mundo em directo – e o mundo parou em choque.

Depois do primeiro embate (08:46 locais, 14:46 em Maputo), seguiu-se um segundo avião contra a Torre Sul (09:03), um terceiro contra o Pentágono (09:37) e um quarto que se despenhou na Pensilvânia (10:03), segundo o cronograma do Memorial do 11 de Setembro.
O quarto avião despenhou-se a 20 minutos de voo de Washington e os investigadores presumem que o alvo seria o Capitólio ou a Casa Branca, que foram evacuados.

OS TRÊS PILARES DA AMÉRICA
O 11 de Setembro – ou ‘nine/eleven’ no mundo anglófono – foi um ataque terrorista coordenado contra três pilares da América: o económico, representado pelo WTC, o político, pelo alvo em Washington, e o militar, pelo Pentágono, a sede do Departamento de Defesa.

O então Presidente George W. Bush, que visitava uma escola na Florida, foi informado pelo seu chefe de gabinete, Andrew Card, que lhe disse ao ouvido: “Um segundo avião atingiu a segunda torre. A América está a ser atacada”.
A América estava a ser atacada, não com armas convencionais, mas com quatro aviões de passageiros, dois da American Airlines e dois da United Airlines, sequestrados e pilotados por 19 terroristas islamistas suicidas que os transformaram em armas de destruição em massa.

Para isso, escolheram aviões com muito combustível, por serem voos transcontinentais, cujo incêndio gerou temperaturas de tal forma elevadas que provocaram o colapso da estrutura de aço das Torres Gémeas, de mais de 400 metros de altura.

Estas quatro “armas não convencionais” provocaram a morte a 2.977 “civis” e aos 19 terroristas, num total de 2.996 mortos, naquele que é considerado o atentado mais mortífero de sempre.
A maioria das vítimas é de nacionalidade norte-americana, mas há nacionais de 93 países entre os mortos, incluindo cinco portugueses.
O balanço é superior ao de Pearl Harbor (2.403 mortos), como assinalou a comissão de inquérito no relatório de 2004.

“Embora de forma alguma tão ameaçador como o acto de guerra do Japão (07 de Dezembro de 1941), o ataque de 11 de Setembro foi, de certa forma, mais devastador”, lê-se no relatório.

ATAQUES ANTERIORES
O ataque foi a acção mais espetacular da organização terrorista de Osama bin Laden, a Al-Qaida, contra os EUA, cujos interesses já tinha atacado no Iémen, Arábia Saudita, Quénia ou Tanzânia com um saldo de cerca de 300 mortos.

O objectivo era expulsar os norte-americanos da Arábia Saudita e de toda a região do Golfo, como determinou na declaração de guerra contra a América, que divulgou em 1996.

Foi também a concretização de um plano anterior para destruir as Torres Gémeas, quando um camião armadilhado explodiu na garagem de uma delas em 26 de Fevereiro de 1993, provocando seis mortos.

No dia dos ataques de 2001, Bush declarou “guerra ao terror” e prometeu que os EUA iriam levar os seus responsáveis à justiça, sem fazer nenhuma distinção entre os terroristas e aqueles que os abrigam.

AFEGANISTÃO, O ABRIGO DE BIN LADEN
E como quem abrigava Osama bin Laden era o regime dos talibãs (1996-2001), que se recusaram a entregá-lo, os EUA e os seus aliados invadiram o Afeganistão em 07 de Outubro de 2001.

Os EUA iniciaram, então, a guerra convencional mais longa da sua história, que só terminou no passado dia 30 de Agosto, com a partida dos seus últimos militares de Cabul.

Para trás, deixaram o Afeganistão e o seu povo de novo nas mãos dos que tinham deposto há 20 anos por causa do 11 de Setembro: os talibãs.

Bin Laden conseguiu fugir para o vizinho Paquistão, onde viria a ser morto por forças especiais norte-americanas 10 anos depois, em 02 de Maio de 2011.

No âmbito da “guerra ao terror”, os EUA e aliados também ocuparam o Iraque entre 2003 e 2011, alegando que Saddam Hussein possuía armas de destruição em massa, e efectuaram intervenções noutros países da região.

A universidade norte-americana de Brown calculou que os conflitos relacionados com a resposta ao 11 de Setembro terão causado cerca de 800 mil mortos no Afeganistão, Paquistão, Iraque, Síria e Iémen.

Viajar de avião passou a ser diferente logo depois do 11 de Setembro, com regras ainda mais apertadas de segurança, proibição de transporte de determinados artigos ou discriminação no controlo de passageiros em função da percepção da religião ou nacionalidade.

O 11 de Setembro teve consequências ao nível dos direitos cívicos, alguns dos quais foram restringidos ou mesmo suspensos em nome da segurança nacional, e gerou intolerância para com muçulmanos no Ocidente.

Também foi criada a prisão de Guantánamo, na ilha de Cuba, que chegou a ter mais de 700 suspeitos detidos pelos EUA em vários países, apesar de repetidas denúncias de graves violações dos direitos humanos.

O “CÉREBRO” DOS ATAQUES
Restam 39 detidos em Guantánamo, incluindo o paquistanês Khalid Sheikh Mohammed, acusado pela comissão de inquérito de ser o “arquiteto principal dos ataques de 11 de Setembro”, que aguarda julgamento.

Capturado pela CIA em 2003, terá confessado sob “coação”, segundo a agência Associated Press, o seu envolvimento em quase todas as grandes operações da Al-Qaida, incluindo o atentado de 1993 contra o WTC e o de 11 de Setembro.

AL-QAIDA REIVENTA-SE E ADAPTA-SE
A organização terrorista responsável pelos ataques de 11 de Setembro, a Al-Qaida, está hoje mais descentralizada e mais próxima das comunidades locais, procurando reinventar-se perante a emergência do Estado Islâmico, concluem especialistas.

Um painel de especialistas nacionais e internacionais consultado pela Lusa conclui que a Al-Qaida pode estar mais fragilizada, mas não deixa de constituir um risco de segurança, no momento em que se reorganiza em África e no Médio Oriente, com um novo modelo de liderança e aproveitando a saída das forças internacionais do Afeganistão.

Tom Copeland, especialista em contraterrorismo do Centennial Institute, um ‘think tank’ do Colorado (EUA), disse estar preocupado com a ausência de mecanismos de vigilância sobre as células da Al-Qaida no Afeganistão, agora que as forças norte-americanas abandonam o território, por aquilo que isso significa em termos de incapacidade para detectar a evolução desta organização terrorista.

“A retirada dos Estados Unidos do Afeganistão é a melhor notícia que os novos dirigentes da Al-Qaida poderiam ter recebido. Sem as tropas internacionais e com os talibãs no poder, não demorará muito a que este grupo, perigoso e bem organizado, volte a ter capacidade de ameaça ao Ocidente”, disse Copeland à Lusa.

Este especialista considera que a ausência de embaixadas, “antenas” da CIA e bases militares norte-americanas no Afeganistão vão deixar os Estados Unidos “cegos” relativamente à inevitável reconstituição de células da Al-Qaida na região. dando-lhe possibilidade de recuperar o prestígio e a influência que a organização teve na altura dos ataques de 11 de Setembro de 2001.

Nuno Lemos Pires, brigadeiro-general e professor na Academia Militar, defende que a Al-Qaida de há 20 anos e a de hoje é, ao mesmo tempo, diferente e igual.

“É muito diferente porque praticamente não tem ‘terreno controlado’ em lado nenhum e tem uma rede muito dispersa com grandes dificuldades de concertação operacional. Mas continua muito igual porque as ideias radicais que defende e os meios que estão dispostos a usar para atingir os seus objectivos mantêm-se, praticamente, inalteráveis”, disse Lemos Pires em declarações à Lusa.

Para o brigadeiro-general, um factor que introduz diferença na Al-Qaida de hoje relativamente à de 2001 foi a emergência do Estado Islâmico (EI), “que obriga (esse grupo terrorista) a mostrar políticas e estratégias muito distintas, para que não se confundam nem as mensagens nem os métodos”.
(LUSA)

Fonte:Jornal Notícias

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