DUAS das pessoas gravemente feridas no sábado, 23 de Junho, na explosão no final de um comício do Presidente Emmerson Mnangagwa em Bulawayo morreram. Perence Shiri, ministro da Agricultura e ex-chefe da Força Aérea, adverte que os culpados, que ele descreveu como “terroristas”, estão a “brincar com fogo”.

O Marechal não nomeou ninguém, mas muitos zimbabweanos acreditam que ele se referia aos rivais dentro da ZANU-PF, o partido governante.

Esta explosão no White City Stadium gera muitas interrogações, mesmo se o interesse dos seus autores é criar incertezas neste período eleitoral. Se a explosão foi para desaconselhar a realização dos escrutínios, a questão é quem está mais preocupado com essas eleições? Se o atentado surgiu como parte da luta interna da União Nacional Africana – Frente Patriótica do Zimbabwe (ZANU-PF), que deveria ter terminado após a saída de Mugabe no ano passado, então, quem são os culpados?

Várias teorias circulam na busca de respostas a estas e outras tantas questões.

Zenzele Ndebele, director da CITE, uma organização não-governamental de Bulawayo, encontrava-se no local da explosão no sábado. Ele contextualiza as palavras de Perence Shiri neste período pós-Mugabe que acaba de se abrir.

“O antigo Marechal faz parte da facção pró-Mnangagwa. Foi um dos militares que participou do golpe de Estado que levou aquele ao poder. Ele tem assento no Governo. Tudo indica que o seu aviso se destina aos seus antigos camaradas, aqueles que ainda hoje apoiam Robert Mugabe, que não aceitam, claramente, o seu afastamento. Sabe-se que alguns deles lançaram o seu próprio partido político, a Frente Patriótica Nacional, que irá participar nas eleições do final de Julho. Nas suas fileiras encontramos o ex-ministro Jonathan Moyo, um pró-Mugabe, que já declarou que “sangue seria derramado” no Zimbabwe, se a comunidade internacional não interviesse para se livrar de Mnangagwa. Essas pessoas ainda são muito ressentidas”, disse Ndebele à RFI.

RECADO DOS NOSTÁLGICOS?

Para o Presidente Mnangagwa – que sucedeu a Robert Mugabe em Novembro de 2017 na sequência de uma acção militar – o caso é bastante claro. O ataque de Bulawayo foi contra si. E quando ele diz que sabe quem está por detrás desta tentativa de assassinato, embora não tenha apontado nomes, muitos zimbabweanos pensam nos nostálgicos da era de Mugabe.

Desde que o actual Governo subiu ao poder depois do afastamento de Mugabe pela intervenção das Forças Armadas em Novembro do ano passado, alguns acreditam que actos como o ataque de 23 de Junho não podem ser descartados. Membros descontentes leais ao regime anterior ou outros indivíduos motivados por diversas razões poderiam enveredar por este estilo de violência.

Após o incidente de sábado, o professor Jonathan Moyo, considerado o cérebro da chamada “Geração 40” (G40), uma facção da ZANU-PF próxima de Mugabe e expulsa do partido na sequência dos eventos de Novembro de 2017, escreveu na sua conta do Twitter: “Hoje (23 de Junho) a explosão no White City Stadium em Bulawayo é um lembrete trágico que o uso de tanques, bombas, granadas e armas por alguém contra qualquer um para resolver um conflito político é bárbaro. Em 15 de Novembro de 2017 estabeleceu-se um paradigma perigoso na política do Zimbabwe. Violência gera violência. Triste! “

Emmerson Mnangagwa, companheiro de armas de Mugabe por décadas, chegou ao poder em finais do ano passado com o apoio dos militares, no culminar de conflitos internos no seio da governante ZANU-PF.

Mas, como se disse, há outras teorias à volta do atentado de sábado.

Algumas sugerem que o ataque é um pretexto para declarar o estado de emergência e adiar as eleições, mas o Presidente já assegurou ao país e ao mundo que a votação de 30 de Julho próximo se mantem como o planeado e que nada travará o processo eleitoral.

FANTASMAS DO PASSADO

Uma outra hipótese é o de uma acção programada pela sua “contra-inteligência” para justificar, por exemplo, uma recuperação e reforço do aparelho de segurança.

Após o ataque, o Governo disse que considerava prover um serviço de segurança a todos os 23 candidatos presidenciais – um recorde na história das eleições do Zimbabwe – que dele precisassem, mas alguns dos concorrentes mostram-se desconfiados sobre este gesto porque os serviços de segurança do país tornaram-se altamente politizado.

Ainda há quem afirme que a explosão foi uma acção de diversão montada pelo próprio partido governante para desviar a atenção das queixas sobre o processo eleitoral que a oposição vem há muito apresentando.

Existem também outras conjecturas circulando sobre o ataque de sábado: os fantasmas do passado ensombrando o Presidente.

Emmerson Mnangagwa, quando chefe da Segurança Nacional, durante o longo período de poder de Mugabe (1980-2017), dirigiu em 1983 a brutal repressão da Polícia nas províncias “dissidentes” de Matabeleland (oeste) e Midlands (centro). O balanço da acção nunca foi confirmado oficialmente, mas teria feito cerca de 20 mil mortos.

Questiona-se também o seu papel na fraude e violência que, nas eleições de 2008, permitiram a Robert Mugabe se manter no poder.

Sem que qualquer destas teorias seja conclusiva, o foco da discussão não deve estar somente nesta recente explosão no White City Stadium em Bulawayo. A discussão sobre a violência na política no Zimbabwe deve olhar para a história arraigada de belicosidade que tem ocorrido entre os partidos políticos e que já deixou muitos mortos, milhares de feridos ou deslocados.

REDACÇÃO INTERNACIONAL, com RFI e NEWSDAY

    Fonte:Jornal Notícias

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