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HÁ cerca de duas semanas, o principal líder da oposição zimbabweana anunciou que iria renomear o país, caso ele e a sua Aliança MDC vençam as eleições do final do mês.

Em Abril, o rei da Swazilândia anunciou a mudança do nome do reino para eSwatini. Se no caso de Nelson Chamisa é uma intenção de probabilidade quase nula de vingar, a declaração de Mswati III é um facto consumado. Mas quanto custa o processo de mudança de nome?

No dia 19 de Abril, nas celebrações dos 50 anos da independência do país e também do seu aniversário natalício, Mswati III, falando a uma multidão num estádio desportivo em Manzini disse:

“Os países africanos, ao conseguir a independência, voltaram aos seus nomes anteriores à colonização.”. Naquele momento, ele ainda era o rei da Swazilândia – mas a Swazilândia deixaria de existir. “Então, de agora em diante, o país será conhecido oficialmente como o Reino de eSwatini”, continuou.

Apesar do nome eSwatini, que significa “Terra dos Swazis”, ser frequentemente usado no país e, portanto, não representar tanta novidade, o anúncio foi recebido com surpresa pelos cidadãos nacionais e pelo mundo.

A mudança fez muitos se perguntarem como e de que formas será efectivada. E, de facto, quanto essa nova designação do país custará à nação de 1,5 milhão de habitantes?

Como muitos outros países africanos, eSwatini, com fronteiras com Moçambique e África do Sul, tem lutado para se redefinir na sua era pós-colonial.

CRÍTICAS AO AUTORITARISMO

O eSwatini não é tão pobre, mas depende muito da vizinha África do Sul e enfrenta alguns desafios consideráveis.

A atitude de mudar de nome foi controversa. Bheki Makhubu, um jornalista e editor da revista local “The Nation”, disse que as pessoas já estavam acostumadas ao rei se referir ao país como eSwatini. Mas, na sua opinião, a mudança de nome reflecte perfeitamente o seu estilo de governo. “Ele (o rei) basicamente faz o que quer com o país”.

Alguns dizem até que o monarca trata o Estado de eSwatini como sua propriedade privada, diz Makhubu, que descreve a situação como “um horror”. “Nós [o povo] só estamos no meio”.

No entanto, a mudança de nome não é uma atitude puramente superficial, diz o advogado de propriedade intelectual e blogueiro Darren Olivier. “Há valor nisso, há um valor intrínseco nessa identidade e no que significa para o povo”, diz. “Ainda assim, há um custo – um custo físico em mudar a identidade.”

Como muitos outros, Olivier perguntou-se exactamente qual é o preço do país oficialmente passar chamar-se eSwatini. Logo após o anúncio do rei, Olivier publicou no seu blog que estima o valor da mudança de nome em seis milhões de dólares (cerca de 351,4 milhões de meticais).

Ele fez esse cálculo com base no rendimento anual tributável e não tributável do país, de cerca de mil milhões de dólares (58,5 mil milhões de meticais).

Para uma empresa grande, o orçamento médio de marketing custa cerca de 6 por cento do seu rendimento, diz ele. Isso daria 60 milhões de dólares nesse caso – e projectos de marca geralmente tomam 10 por cento desses custos de marketing. Isso resulta nos seis milhões de dólares estimados para a Swazilândia mudar de nome.

Como diz Olivier, para um país tão pequeno, isso “não é insignificante”.

Ele admite que a sua estimativa é feita “por aproximação” e baseada em suposições sobre como funciona o “rebranding” em contextos corporativos, como quando uma empresa muda de nome, mas é potencialmente útil para imaginar o valor considerando que ninguém realmente sabe que tipo de conta os swazis podem ter de enfrentar.

MUDANÇA DE “MARCA”

“A papelada, os ‘sites’ oficiais, assinaturas nas propriedades do governo, agências do governo – há um enorme gasto aqui e precisamos perguntar desde o começo se é realmente necessário”, diz Jeremy Sampson, director executivo para a África na empresa de marketing Brand Finance.

Considerando a incerteza, órgãos do governo compartilharam informações dizendo que a mudança de nome não será cara. O Ministério do Interior de eSwatini disse que a mudança de nome será gradual para limitar os custos. Papéis timbrados do governo ainda registando o nome Swazilândia não serão deitados fora, por exemplo. “Vai levar tempo para terminarmos o ‘stock’ que temos”, explicou a ministra do Interior, princesa Tsandzile Dlamini, a imprensa.

Provavelmente por questões práticas, o rei também se esforçou para manter válidas as documentações que se referem à Swazilândia. Uma nota oficial foi publicada dizendo que qualquer acordo internacional ou contratos legais que se referem ao nome “antigo” serão entendidos como uma referência a eSwatini. Essa protecção legal certamente poupará negócios estrangeiros do custo de actualizar uma série de documentos corporativos.

Mas aqui e ali, a mudança realmente está a acontecer. A Comissão de Turismo já fez o seu “rebranding”. Isso é importante porque, como qualquer outra comissão de turismo, é a forma como o país se apresenta para o resto do mundo – e sugere que aqueles fora do país devem referir-se a ele como eSwatini, não Swazilândia.

E quanto a mapas e gráficos? O geógrafo Peter Jordan, da Academia Austríaca das Ciências, diz que há uma diferença entre o nome que um país usa internamente (endómino) e o nome que outros usam externamente em referência a ele (o exónimo). Como exemplo temos o caso alemão, que usa “Deutschland” internamente e “Germany” ou “Allemagne” externamente.

“Não é preciso muito”, explica Jordan, “quando a Swazilândia muda o seu endómino, já que geralmente os mapas e atlas usam o exómino”.

E será que outras nações vão olhar para a eSwatini como um país actualizado com o qual eles deveriam estar negociando?

Talvez seja por causa disso, por exemplo, que o Google Maps continue-se referindo a Swazilândia, apesar de ser um serviço digital que pode ser actualizado rapidamente.

Alguns levaram a sério, porém. A embaixada norte-americana em eSwatini mudou rapidamente a sua marca – e até actualizou a sua conta no Twitter.

OPOSIÇÃO INTERNA

No fim das contas, pessoas e organizações pelo mundo provavelmente apenas escolherão o nome Swazilândia ou eSwatini com base na sua preferência pessoal. Mas é dentro do país que a mudança tem o seu maior significado. E nem todos estão convencidos de que realmente seja um bom uso de dinheiro público.

“Nós rejeitamos a mudança de nome, não é resultado de um processo consultivo”, diz Mlungisi Makhanya, secretário-geral do Movimento Democrático do Povo Unido, um partido socialista de oposição no país.

Makhanya diz que, em princípio, ele não tem problemas com a mudança de nome, mas diz que deveria ter sido planeada de forma mais transparente. Diz ainda que ele e outros se preocupam com os custos envolvidos – mas que muitos têm medo de falar sobre isso.

“É muito difícil dizer agora [quanto custará]”, diz ele, acrescentando que está muito preocupado que poderá custar centenas de milhões de lilangenis (a moeda local).

“Existe uma ideia errada sobre o rei de que ele é um tipo de monarca africano playboy”, diz Andrew Le Roux, presidente da Federação de Empregadores da Swazilândia e Câmara do Comércio.

Para ele, uma identidade nacional modificada é uma oportunidade para os swazis decidirem quem são e como querem representar-se perante o mundo.

E ele diz ter notado um interesse renovado no país por parte do resto do mundo depois do anúncio. “A mudança de nome gerou mais tráfego online do que qualquer outra notícia sobre a Swazilândia nos últimos anos”, diz ele.

Certamente é uma boa maneira de chamar atenção. Se outras nações vão ver eSwatini como um país renovado e, portanto, um bom lugar para se fazer negócios, não se sabe.

Caso isso ocorra, a mudança pode acabar valendo a pena a longo prazo. Mas certamente não há garantias disso, e os swazis que vêem isso como uma distracção de questões mais sérias com que o governo deveria estar lidando não podem ser culpados por isso.

    Fonte:Jornal Notícias

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