A Associação Médica de Moçambique (AMM) afirma não existirem condições para a suspensão da greve e pretende avançar para mais 21 dias de greve nacional. “São várias inquietações que a classe médica tem estado a apresentar e que não estão a receber a devida atenção, no entanto, nós como classe vamos nos reunir, nesta sexta-feira, para decidir a prorrogação desta greve por mais 21 dias, visto que não existem condições para suspensão da mesma”, disse o Presidente da AMM, Milton Tatia, à saída de uma reunião com os associados.
Segundo o Presidente da Associação, volvidos 17 dias de greve, ainda não foram contactados, mas a classe tem estado a receber vários recados pela imprensa. Conta que alguns recados falam sobre a situação económica do país da qual os médicos têm consciência, sendo que foi com base nisso que a classe médica cedeu no acordo de Fevereiro a quase todas as exigências do caderno reivindicativo inicial.
“Cedemos na redução dos subsídios de exclusividade de 40 por cento para cinco por cento, do subsídio de turno de 30 para cinco por cento e assim em diante. Portanto, nós temos consciência das dificuldades que o nosso país enfrenta, mas o que nós não percebemos é que, no meio destas dificuldades, estejam a ser realizadas reuniões, formações, seminários, fora da cidade de Maputo”, defende a fonte.
“Não cabe ainda na nossa cabeça como é que numa semana em que um hospital da cidade de Maputo não tem energia por falta de pagamento, outro não tem água e o Hospital Central de Maputo que é a maior unidade sanitária do país não tem oxigénio porque não pagou o seu credor, seja realizada uma reunião de cinco dias na praia da Macaneta com todos os custos como deslocação, combustível, acomodação e ajudas de custos”, lamentou.
Acrescentou ainda: “não conseguimos perceber também como é que com tantas unidades sanitárias que têm dificuldades para comprar comida para os seus pacientes, incluindo combustível para as ambulâncias, continuam a ser realizadas reuniões fora da cidade de Maputo enquanto podiam ser feitas online“.
Tatia avançou que há cerca de duas semanas que o Ministério da Saúde (MISAU) garantiu publicamente que resolveria neste mês de Julho os problemas de enquadramento e de reduções salariais, mas diariamente a associação tem recebido informações de que esta situação não foi resolvida.
“Portanto, é-nos difícil confiar que estes problemas de facto serão resolvidos. Temos estado a notar também uma onda crescente de intimidações que tem levado à marcação de faltas. Existem colegas que mesmo a prestarem serviços mínimos estão a ser marcados faltas. Há colegas que foram ameaçados no sentido de que não terão um parecer favorável para renovação dos seus contratos e outros não terão nomeação definitiva”, disse.
O responsável afirmou que, para agravar a situação da classe, nesta terça-feira, o MISAU enviou-lhes um documento em que pretende rever o regulamento do estatuto do médico.
“Em plena greve, com um processo a correr no Tribunal Administrativo desde 2020 para implementação do nosso estatuto e com estes acordos que não foram cumpridos, o MISAU pretende reduzir e de certa forma eliminar ainda mais os nossos direitos. Pretende eliminar o subsídio de risco, o subsídio de compensação pelo trabalho nocturno, a diferenciação do cálculo da remuneração extraordinária do médico, a redução da diuturnidade de quatro para duas, o que significa que muitos colegas só vão receber a sua primeira diuturnidade quando tiverem mais de 50 anos de idade”.
Lembre-se que, das 14 reivindicações apresentadas pelos médicos, o Governo só cumpriu com um ponto e a cada dia manifesta intenção de agravar mais a situação da classe. (Marta Afonso)
Fonte: Carta de Moçambique