É quase meio-dia. O supermercado Amaral já está aberto há mais de duas horas. Ao lado, no restaurante Der Portugueise, ainda se fazem os preparativos para o almoço. Os dois estabelecimentos estão lado a lado -apenas uma casa com duas janelas separa as portas de entrada de cada um. É mesmo o cantinho mais português de Frankfurt.

Entramos primeiro no supermercado. O Sr. Amaral, que vai organizando os congelados, não fica surpreendido com um “bom dia” em português – afinal existem entre 10 mil a 15 mil cidadãos portugueses nesta cidade alemã que tem cerca de 700 mil habitantes. Acabou por dizer-nos que é habitual receber diariamente clientes portugueses. No entanto, são até mais os alemães que estão interessados nos produtos portugueses.

“Ao final do dia, quando as pessoas saem do trabalho, isto enche tanto que até é difícil andar aqui dentro”, diz-nos o Sr. Amaral. Lá ao fundo, atrás da caixa, com um ar curioso, está a mulher, Maria Fernanda, que esboça um sorriso talvez emocionado por ver que quem entra é português e, simultaneamente, jornalista.

Quando estamos dentro do supermercado, é muito fácil identificarmos imediatamente que estamos num lugar português. Primeiro, porque está “tudo ao monte” – a loja também é bastante pequena e apertada -, por isso, são vários os produtos que se encontram apenas num metro quadrado. A composição “à portuguesa” deste minimercado contrasta com a organização meticulosa de cada supermercado alemão. Contudo, o maior elemento de diferenciação para qualquer supermercado alemão é a enorme estante de vinhos que ocupa todo o lado esquerdo da loja (da perspetiva de quem entra). É uma garrafeira surpreendente, talvez por parecer ser maior que o supermercado e, sem dúvida, maior que a esmagadora maioria das garrafeiras que os nossos mini mercados têm em Portugal. São centenas de vinhos portugueses, desde Vinho do Alentejo ao Vinho do Porto, que se encaixam perfeitamente naquelas prateleiras, todos colados uns aos outros para mais caberem. De resto, o Supermercado Amaral só vende produtos portugueses.

“Fomos os primeiros portugueses a montar negócio em Frankfurt”, diz com orgulho Manuel Amaral, antes de contar que está há 46 anos a viver nesta cidade alemã. O negócio, contudo, só arrancou seis anos depois de se terem instalado em Frankfurt.

“Agora, em maio, vamos celebrar 40 anos de negócio”, afirma Maria Fernanda, mirando o infinito, como quem pensa “o tempo passa”. Novamente com os olhos marejados, acrescenta: “No princípio, foi difícil. Mas agora já estamos habituados. Temos uma família grande a viver aqui e tudo.” Na verdade, era difícil a família estar mais perto. No número da porta ao lado, o filho do casal, Cristian Amaral, gere um restaurante, também ele 100% luso.

Saímos do minimercado, caminhamos nem 10 metros e já estamos a colocar os pés novamente dentro de um espaço português. O cheiro não engana – na cozinha já se preparam petiscos portugueses -; os quadros nas paredes ilustram vários dos locais mais conhecidos de Portugal; nos menus só há pratos típicos do nosso país; de fundo ouve-se fado – impercetível para o ouvido do cidadão germânico, inconfundível para o do cidadão lusitano; os imprescindíveis pastéis de nata estão expostos ao balcão e várias bandeiras de Portugal são penduradas nas paredes do restaurante Der Portugueise. Tudo isto nos remete à certeza que também este espaço é 100% português.

A hora de almoço está perto, os clientes estão a chegar para almoçar, mas, apesar de visivelmente atarefado, Cristian Amaral, que nasceu na Alemanha, mas tem nacionalidade portuguesa, consegue lançar algumas respostas ao microfone da TSF: “O restaurante tem apenas dois anos de vida, mas daqui a pouco vamos estar cheios. É sempre assim. Os alemães que trabalham aqui à volta vêm muitas vezes cá almoçar. Gostam da comida portuguesa”.

Entretanto, já se sentou um casal alemão e pediu bacalhau com natas. Entrando na cozinha, o cheiro a comida portuguesa intensifica-se no bom sentido e os pratos já estão a ser preparados. Quem os prepara e condimenta é Luís Amaral, primo de Cristian, sobrinho Manuel Amaral. Luís, tal como o primo, também nasceu na Alemanha, mas fala em bom português. Salienta, com uma expressão de felicidade no rosto, que “os alemães adoram bacalhau, polvo, lulas, chocos,… O que eles querem é comer peixe à boa moda portuguesa.” Entretanto, enquanto se colocava em dia a língua portuguesa na Alemanha, os pratos já estão prontos. À espera está aquele casal de locais que dentro de breves instantes já vai estar a degustar o bacalhau.

É dia de jogo. O Benfica defronta o Eintracht Frankfurt e, curiosamente, o estádio fica bastante perto dali: “15 a 20 minutos a pé”, atira com um ar ansioso o Sr. Amaral. A excitação é diferente de um dia normal de trabalho porque a família é toda benfiquista – à exceção de Luís, que vai torcer pelo Eintracht, mas garante que não fica triste se o Benfica passar. Já têm todos bilhete. À noite, nem o restaurante nem o supermercado vão estar abertos. Afinal, esta é uma oportunidade única: vão todos ver o jogo.

Fonte:TSF Desporto

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