Por: Embaixada da Rússia em Moçambique

 

De acordo com um novo relatório da ONU “Situação na segurança alimentar e alimentação no mundo” (Julho de 2024), é pouco provável que o segundo objectivo do desenvolvimento sustentável, “fome zero”, seja atingido até 2030. O mundo está 15 anos atrasado neste caminho. Após um aumento acentuado em 2019-2021, a fome no mundo tem vindo a crescer com 7,5% da população mundial a sofrer dela em 2019 e 9,1% em 2023. África está à frente do resto do mundo em termos da percentagem das pessoas afectadas por este flagelo.

Mas a fome não é o único problema: as Nações Unidas estimam que cerca de 28,9% da população mundial – ou seja, 2,33 mil milhões de pessoas – enfrentou uma insegurança alimentar moderada ou grave (ou seja, falta de acesso regular a alimentos adequados) no ano passado. A insegurança alimentar e subnutrição são exacerbadas por uma série de factores, em primeiro lugar, pela inflação persistente dos preços dos alimentos, que continua a corroer os ganhos económicos de um grande número de pessoas em praticamente todo o mundo.

A que se deve este quadro bastante pessimista? – Devido às tensões na arena global, na imprensa mundial surgem muitas especulações quanto à resposta a esta pergunta premente. O denso véu de desinformação não permite, infelizmente, que a voz da razão se faça ouvir. Enquanto os peritos de todo o mundo já reconheceram que as causas profundas da inflação alimentar são “distorções” na economia global, erros sistémicos e de cálculo na política macroeconómica, energética e alimentar dos maiores países ocidentais, em grande parte causados pelo seu desejo de implementar uma transição energética acelerada para fontes renováveis.

Além disso, em 2022 quando a economia global ainda não se recuperou após a pandemia de SARS-CoV-2, os países do “Ocidente coletivo” lançaram uma guerra de sanções sem precedentes contra a Rússia, cujo objetivo era isolar completamente o país. Seguindo segamente os seus interesses geopoliticos, os autores de inúmeros pacotes de sanções unilaterais não pensaram sobre as suas consequências para a situação global…

Parece que não é necessário ser um economista para compreender que no mundo em globalização qualquer tentativa de eliminar um dos maiores actores não passará obviamente sem deixar rasto para todo o sistema. Não é estranho, então, que as restricções anti-russas em massa exacerbaram as tendências negativas, agravando o desequilíbrio nos mercados mundiais, principalmente no que se refere aos produtos agrícolas.

Estas teses são confirmadas no relatório da FAO “Revisão Regional da Segurança Alimentar e Nutricional na Europa e na Ásia Central”, elaborado em conjunto com o PAM, a OMS, a UNICEF, a OMM e a UNECE, que afirma que “as sanções e as restrições às exportações de alimentos, fertilizantes e combustíveis levaram a um aumento dos preços dos alimentos em todos os países da região da Europa e da Ásia Central, bem como a nível mundial”.

É curioso frisar que dentro de grandes fluxos de informação sobre o tema, quase não se revelam os principais beneficiários do aumento dos preços e da desestabilização do abastecimento na esfera alimentar. Trata-se das maiores empresas ocidentais no domínio da produção e do comércio agrícola, chamadas “Quatro Grandes” (as norte-americanas “Archer Daniels Midland”, “Bunge”, “Cargill” e a holandesa “Louis Dreyfus), que representam entre 75 e 90% do volume de negócios mundial do comércio de produtos agrícolas. A título de exemplo, só a “Cargill Corporation” aumentou as vendas em 23 % para 165 mil milhões de dólares, registando um lucro líquido recorde de 5 mil milhões de dólares durante o mesmo período.

Evidentemente o afastamento da Rússia dos mercados alimentares mundiais e a crescente incerteza criam condições favoráveis para que as empresas ocidentais continuem a obter lucros adicionais, mas a custo do agravamento da situação em países necessitados, onde o número de pessoas que vivem abaixo do limiar de pobreza está a aumentar inexoravelmente.

Quanto à Rússia, apesar das restrições discriminatórias, o país continua a cumprir as suas obrigações no âmbito de contratos internacionais de exportar bens agrícolas, fertilizantes, energia e outros produtos críticos de forma responsável e de boa fé. Basta lembrar as iniciativas do Presidente russo Vladimir Putin de transferir gratuitamente dezenas de milhares de toneladas de fertilizantes russos (apreendidos em portos europeus) e de cereais para países necessitados.

Além disso, apesar da suspensão forçada da sua participação na “Iniciativa do Mar Negro” (“Acordo dos cereais”), a Rússia está a explorar ativamente opções para o fornecimento alternativo de alimentos aos países necessitados, a fim de compensar os prejuízos. É de lembrar que contrariamente aos objetivos humanitários inicialmente declarados, a exportação de produtos alimentares ucranianos no âmbito do Acordo acima-mencionado tomou, quase imediatamente, um rumo puramente comercial, destinando-se a servir os interesses mercantis do regime de Kiev e dos seus patrões ocidentais. Os factos e os números, como se costuma dizer, falam por si. Desde que a “Iniciativa do Mar Negro” foi lançada, foi exportado um total de 32,8 milhões de toneladas de carga, das quais mais de 70% foram feitas seguir aos países de rendimento alto e médio-alto, entre os quais os da UE, cabendo aos países mais necessitados menos de 3%.

Apesar de mutos obstáculos, as políticas russas têm um efeito estabilizador no equilíbrio global da oferta e da procura. O Índice de Preços dos Alimentos da FAO, embora tenha subido para 124,4 pontos em Setembro de 2024, ainda está longe dos níveis máximos de 2022, sendo geralmente comparáveis ao nível de 2021. Contudo, de acordo com os peritos, apesar de algum melhoramento da situação com os preços, o problema do acesso dos países em desenvolvimento aos alimentos está longe de resolução. É que os obstáculos ilegítimos criados artificialmente contra a Rússia impedem o sitema global de abastecimento de funcionar normalmente.

Torna-se cada vez mais evidente que para salvar a situação nos mercados globais e cumprir as metas dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável é imperioso livrar a economia mundial do fardo de sanções, protecionismo e concorrência desleal. Apersar do seu extenso potencial de exportação, a Rússia, bem como nenhum outro país, não é capaz de resolver sozinho o problema da fome, subnutrição e inegurança alimentar em todo o mundo. São necessários esforços conjuntos de toda a comunidade mundial. No entanto, como, infelizmente, observamos agora, alguns estados preferem perseguir os seus próprios interesses, não se empenhando na causa comum…

 

Fonte:O País

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