Não fosse mais um regresso de Bruno de Carvalho e o Sporting de Braga teria finalmente o destaque mediático pelo qual tanto luta há tantos anos.

Mesmo que pelas más razões, é certo: foi eliminado na terceira pré-eliminatória da Liga Europa por um totalmente desconhecido clube da Ucrânia que, segundo o seu treinador, tem um orçamento dez vezes inferior aos Guerreiros do Minho e, confiando nos dados disponíveis, um plantel com um valor de mercado cerca de cinco vezes inferior, ao nível do Tondela (à volta de 14 milhões de euros).

A verdade é que o FC Zorya Luhansk não precisou de mais para atirar os bracarenses para fora da Europa e lançar o pânico geral relativamente ao ranking português na UEFA e à (in)capacidade competitiva da liga portuguesa. Mas, entretanto, Bruno de Carvalho voltou e tudo o resto deixou de importar.

Tudo? Não, nem tudo. Para quem gosta de futebol há sempre coisas mais importantes. Como por exemplo o improvável facto deste Zorya fazer parte de um dos raríssimos momento brilhantes da história da seleção portuguesa no século XX.

O episódio conta-se em poucas palavras. Em 1972 o Zorya foi campeão da poderosa liga da União Soviética (se calhar, afinal não devia ser assim tão desconhecido….), deixando para trás o Dínamo de Kiev, o CSKA, o Spartak, o Zenit, etc. E como recompensa, foi escolhido pelo Comité Central (no mínimo…) para representar a União Soviética na Taça da Independência do Brasil, também conhecida por Minicopa ou Mundialito. Isto porque a seleção da URSS estava igualmente envolvida na fase final do Euro-72, que viria a perder para a RFA no jogo decisivo.

Nesse verão de 1972, estiveram no Brasil a festejar os 150 anos da Grito de Ipiranga 20 das melhores seleções de quatro continentes, incluindo a campeã do mundo Brasil, a Argentina, o Uruguai, a Checoslováquia, a França, a Jugoslávia, entre muitas outras.

A equipa das quinas – que contava com Eusébio, Humberto Coelho, Jaime Graça, Toni ou Jordão e era treinada por José Augusto – fez maravilhas (além de muita praia, ao que consta) e venceu o Equador, o Irão, o Chile e a Irlanda na primeira fase de grupos. Na segunda fase, Portugal venceu a Argentina (3-1) e empatou com o Uruguai (1-1), disputando depois o apuramento para a final da competição frente à União Soviética ou, melhor, ao Zorya (que contava com três reforços de outros clubes da Liga da URSS).

A 6 de Julho de 1972, no Mineirão, em Belo Horizonte, Portugal venceu o Zorya com um golo de Jordão, numa partida sonolenta, em que apenas um fatal desentendimento entre o capitão do Zorya, Aleksandr Zhuravlyov e o seu guarda-redes Aleksandr Tkachenko fez a diferença.

A “equipa de todos nós” chegou assim à final com o Brasil, que acabou por vencer com um golo de Jair aos 89 minutos, possibilitando (apropriadamente) ao país independente derrotar o ex-colonizador e a Portugal mais uma das suas (na altura) muito comuns e festejadas vitórias morais.

Quanto ao Zorya, que significa “madrugada” em ucraniano, desapareceu de circulação, para voltar numa noite de verão, em Braga, onde serviu uma fria vingança ao futebol português.

Fonte:TSF Desporto

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