Segundo estudo feito por cirurgiã na FOP, características encontradas na boca de crianças são semelhantes a dos pais que têm periodontite, problema que afeta tecidos da boca e que pode evoluir para queda dos dentes. Um estudo da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), alerta que a doença periodontal, que afeta a gengiva, pode ser passada de pai para filho. Segundo a pesquisa, a saúde bucal dessas crianças deve ter um acompanhamento mais rigoroso para evitar o desenvolvimento da enfermidade. Além disso, foi identificado que o uso de uma substância química específica pode favorecer no controle de algumas alterações bucais.
A cirurgiã-dentista Mabelle de Freitas Monteiro, pesquisadora autora da tese de doutorado, explica que a doença periodontal, ou periodontite, consiste na inflamação das gengivas e de outros tecidos da boca em resposta ao acúmulo de placa bacteriana, sendo que em casos mais graves pode causar perda óssea e até mesmo a queda dos dentes.
“Constatamos que crianças de 6 a 12 anos já têm alterações bucais, características essas muito parecidas com as dos pais que têm a periodontite”, diz a pesquisadora.
Pesquisadora Mabelle de Freitas Monteiro e o professor Renato Corrêa Viana Casarin, da FOP/Unicamp
Comunicação/FOP-Unicamp
Entre as alterações clínicas percebidas que têm relação com as dos pais com a patologia estão mudanças precoces na saliva, aparecimento de placa bacteriana e respostas inflamatória nos tecidos da boca, o que sugere o início do desenvolvimento da periodontite ou indícios de que há riscos da doença se manifestar futuramente.
Com essas constatações, a linha de pesquisa foi dividida em três fases: tentar identificar como esses aspectos identificados se desenvolvem na boca das crianças ao longo do tempo, se eles têm potencial para desenvolver a patologia, e como o Triclosan – substância presente em algumas pastas de dente – pode ajudar no controle da saúde bucal para evitar o surgimento da doença.
“Precisamos entender o por quê a periodontite ocorre. Uma vez que identifico qual a causa, consigo trabalhar melhor nela”, ressalta Mabelle.
Segundo a FOP, participaram do estudo 30 pais e 36 crianças divididos igualmente nos grupos de famílias com periodontia agressiva e saudáveis. Foram coletadas e congeladas amostras das placas bacterianas e dos fluidos da gengiva de cada participante, sendo os materiais enviados aos Estados Unidos para passarem pela avaliação microbiológica na The Ohio State University (OSU), que permitiu identificar mais de 400 tipos diferentes de bactérias.
“Percebemos que o comportamento das características na boca de filhos do grupo de pais saudáveis foi diferente das do grupo de pais com a doença”, complementa a cirurgiã-dentista.
Pesquisa orienta que crianças com pais com periodontite visitem dentista com maior frequência
Reprodução EPTV
Cuidados devem começar logo na infância
De acordo com a tese da Unicamp, a periodontite é uma das doenças que mais prejudicam a cavidade oral. Os casos agressivos representam em torno de 1% a 6% dos brasileiros, mas, devido à gravidade da enfermidade, o estudo alerta que os cuidados devem ser tomados desde cedo, mesmo que ainda não haja a confirmação de que os filhos de pais com periodontite têm maior probabilidade de desenvolver a patologia.
Segundo a tese da Unicamp, o acompanhamento rotineiro da saúde bucal, como tratamento de cáries ou de dores de dente, e a correta escovação e higienização são importantes. No entanto, o controle da placa bacteriana não é o suficiente.
Com isso, a orientação é que os dentistas devem ficar mais atentos com as mudanças identificadas na boca dessas crianças, principalmente quando há o histórico familiar da doença gengival.
“Por causa da gravidade da doença, é preciso de um controle muito mais meticuloso, então se for percebido qualquer sangramento ou alteração na gengiva, é necessário investigar a fundo a causa disso. O ideal é um acompanhamento a cada 3 ou 6 meses”, diz Mabelle.
A explicação da tese para os cuidados não serem o suficiente é que a periodontite não está relacionada apenas a questões de higiene, já que pode haver também associação de fatores genéticos, além de que a aplicação das técnicas habituais de escovação não contribuíram tanto para controle das placa bacteriana acumulada.
Periodontite atinge gengiva e outros tecidos da boca
Reprodução/TV Globo
Possíveis tratamentos e próximos passos
Como o uso de cremes dentais habituais para o controle de placas não apresentou resultados desejados durante o estudo, a pesquisa passou a focar nos benefícios do Triclosan. De acordo com o projeto de doutorado, apesar da substância antibactericida não ter agido como o esperado no controle das bactérias, ela foi capaz de reduzir níveis de sangramento e controlar as características salivares.
Agora, o objetivo do estudo é encontrar formas mais eficientes para a prevenção e tratamento precoce da doença periodontal. Futuramente, deve ser estudado o que bactérias identificadas na boca e a enfermidade podem causar no resto do organismo.
FOP, em Piracicaba
Cesar Maia-FOP Unicamp
A pesquisa teve orientação do professor Renato Corrêa Viana Casarin, da área de periodontia da FOP, e coorientação da professora Purnima Kumar, da The Ohio State University (OSU) e reconhecida internacionalmente na avaliação de microbioma oral e periodontal.
A tese vai competir internacionalmente no maior congresso de odontologia científica, da Associação Internacional de Pesquisa Odontológica (IADR).
*Sob supervisão de Samantha Silva, do G1 Piracicaba e Região
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