Apesar de serem dois históricos do futebol europeu, até hoje Benfica e Ajax apenas se encontraram em duas eliminatórias europeias, ambas na Taça dos Campeões Europeus. E nos dois casos, o clube holandês saiu por cima, apesar do enorme equilíbrio registado, tanto em 1969 como em 1972.

Curiosamente o Benfica até venceu a primeira partida oficial perante o Ajax. Não fez por menos e foi a Amesterdão ganhar por 3-1, na primeira mão dos quartos-de-final da Taça dos Campeões 1968/69. Um resultado que a Europa do futebol encarou com naturalidade, já que os encarnados eram vice-campeões continentais (tinham perdido a final da época anterior face ao Manchester United), enquanto o futebol holandês continuava a ser pouco conceituado, cronicamente afastado dos grandes palcos das competições de clubes e seleções.

Nesse jogo realizado no Estádio Olímpico de Amesterdão – onde as águias haviam sido coroados reis da Europa após vencerem o Real Madrid na mítica final de 1962 – num campo completamente coberto de neve, sob uma temperatura que chegou aos sete graus negativos, os monstros sagrados do Benfica (Eusébio, Coluna, Simões, José Augusto), impuseram a sua experiência perante uma equipa que estava ainda em construção, liderada por Rinus Michels, o inventor do “Futebol Total”, que ia então aperfeiçoando com a ajuda do jovem Johan Cruyff (21 anos).

E foi exatamente uma amostra deste novo futebol que espantaria Lisboa e o mundo, dias depois, com os holandeses a chegarem ao 0-3 aos 47 minutos, graças ao segundo golo de Cruyff. A primeira parte do Ajax foi demolidora com os extremos Keiser e Swart o falso 9 Cruyff, a destacarem-se num carrossel que destruiu a lenta defesa do Benfica.

Os comandados do brasileiro Otto Glória apenas conseguiram reagir na parte final do encontro, graças a um “chuveirinho” intenso sobre a área holandesa, onde José Torres, com os seus 1,91 metros, ia ganhando lance atrás de lance, até fazer um golo ao minuto ’90, que levou a eliminatória para um jogo de desempate, aprazado para Paris.

Na capital francesa, a 5 de março de 1969, foram precisos mais 120 minutos para se encontrar o vencedor. As duas equipas recearam-se mutuamente e terá sido o maior vigor físico do Ajax (que tinha um conjunto mais jovem) a desequilibrar. Cruyff marcou aos 92 minutos, seguindo-se um bis do sueco Danielson, que já “faturara” nos dois jogos anteriores.

Para o Ajax estava aberto o caminho que o levaria à sua primeira final europeia, poucas semanas depois, quando foi (1-4) pelo cinismo italiano do AC Milan. Já para o Benfica o desempate de Paris acabaria por marcar o final de uma era, até porque uma parte importante dos jogadores da famosa “geração de 60” do Benfica Europeu estava em final de carreira. Aliás, não deixa de ser oportuno acrescentar que os encarnados apenas voltariam a uma meia final da Taça dos Campeões três anos depois e novamente perante o Ajax.

Mas, em abril de 1972, as expectativas gerais eram diametralmente opostas: o Ajax detinha o título de campeão europeu e vivia-se o período de imposição do seu “Futebol Total”, para deleite dos adeptos do futebol de ataque, por esse mundo fora. Desta feita, era o Benfica a equipa inexperiente em termos internacionais, sobrando apenas Eusébio e Jaime Graça como os grandes nomes da década anterior, enquanto jovens como Nené, Jordão, Artur Jorge e Toni estavam em plena fase de afirmação.

Apesar disso, em Amesterdão, não houve festival ofensivo holandês, com a diferença a ser feita por um simples golo, do veterano Swart. E duas semanas depois, em Lisboa, o Ajax foi, acima de tudo, uma equipa pragmática e até conservadora, mostrando muito respeito pelos encarnados, treinados pelo inglês Jimmy Hagan. O marcador não chegou a funcionar, apesar do ‘forcing’ final benfiquista, liderado por Artur Jorge, o melhor em campo.

Para o Ajax, Lisboa voltaria a ser uma escala no percurso para a final da Taça dos Campeões, mas desta feita com um final feliz, revalidando o título europeu, com dois golos de Cruyff a abater o Inter de Milão.

Quanto ao Benfica de Hagan, que seria tricampeão nacional, nunca se conseguiria afirmar na Taça dos Campeões. Os encarnados apenas voltariam a uma final da competição em 1988, exatamente perante outro oponente holandês de memória, o PSV Eindhoven.

Fonte:TSF Desporto

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