Os Presidentes de Moçambique e do Ruanda, Filipe Nyusi e Paul Kagame, respectivamente, reiteram que as tropas ruandesas intervêm no combate ao terrorismo na província de Cabo Delgado a convite de Moçambique e que são os próprios ruandeses a custearem as despesas operacionais, que decorrem há 80 dias. O dia da saída continua uma incógnita.

 

Os dois Estadistas reiteraram este discurso no último sábado, na conferência de imprensa conjunta que concederam aos jornalistas moçambicanos e estrangeiros na cidade de Pemba, província de Cabo Delgado, à margem das celebrações dos 57 anos das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM).

 

Segundo Filipe Nyusi, Moçambique é quem convidou o Ruanda e conta que o país liderado por Paul Kagame não foi o único a ser abordado para ajudar as Forças de Defesa e Segurança (FDS) no combate ao terrorismo no norte do país. “Quem convidou o Ruanda foi Moçambique. Em muitas ocasiões interagimos… e não só interagimos com o Ruanda, mas estudamos outros países e encontramos a solução, tendo em conta a experiência, prontidão, relacionamento”, disse Nyusi, quando questionado sobre quem terá convidado os ruandeses a intervirem no país.

 

“Não houve nenhum triângulo aqui. (…) Não precisamos de meninos de recados, porque podemos fazer diretamente e é o que fizemos. Mesmo com a SADC, nós tivemos essa luz verde de que nós, a SADC, vamos entrar, mas Moçambique é livre de ir buscar o parceiro que ele escolher» e essa escolha recaiu sobre o Ruanda”, sublinhou.

 

Em causa, refira-se, estão as informações que dão conta de que as tropas ruandesas estão a “batalhar” em Cabo Delgado por “procuração francesa”, assinada pela multinacional Total, que lidera o maior projecto de exploração de gás natural existente em África. A teoria defende que o Governo francês optou por encontrar um braço africano (Ruanda) para intervir em Cabo Delgado, de modo a evitar críticas idênticas às que têm recebido em torno do insucesso francês na sua intervenção no Mali.

 

Questionado porquê demorou a convidar forças estrangeiras para intervir no país, o Chefe de Estado moçambicano respondeu: “é relativo o que é muito tempo, porque o primeiro ataque surge em 2017, mas já vínhamos vendo sinais estranhos em 2012. Exigiu da nossa parte uma ponderação, uma suficiente inteligência só para perceber o que era o fenómeno. Portanto, se tivéssemos dito “venha França, Ruanda, Egipto, Zimbabwe, teríamos dito venha para uma situação que nem sabíamos o que era”.

 

“O que tem mais custo é permitir que uma situação daquelas continue sem se fazer nada” – Kagame

 

Por seu turno, Paul Kagame, Chefe de Estado ruandês, garante que o valor investido nas operações ruandesas em Moçambique é inferior aos danos que seriam causados pelos terroristas, caso não se fizesse nada. “Operações desta natureza têm muitos custos, mas mesmo que sejam muitos, o que tem mais custo é permitir que uma situação daquelas continue sem se fazer nada e isso é dezenas de vezes mais custoso do que as operações que estão a ser realizadas”, defende.

 

“Na verdade, se permitirmos que esta situação continuasse, isso custaria mais vidas, mais dinheiro e todo um futuro seria perdido, em termos de desenvolvimento”, sublinhou.

 

Até ao momento, são desconhecidos os montantes investidos pelo Ruanda nesta operação militar que teve o seu início no passado dia 09 de Julho. Para além de ter movimentado mil homens, entre polícias e militares, o Ruanda mobilizou equipamento militar jamais visto na República de Moçambique. A intervenção das tropas de Kagame, sublinhe-se, já permitiu a reconquista da vila-sede do distrito de Mocímboa da Praia e o Posto Administrativo de Mbau, um dos bastiões do grupo terrorista.

 

Tropas ruandesas mantêm-se até à reconstrução das zonas afectadas

 

Uma das questões que inquieta os moçambicanos está relacionada com o período em que as tropas ruandesas se manterão no território nacional. Aos jornalistas, assim como à tropa ruandesa, Paul Kagame esclareceu que os seus homens irão permanecer em Moçambique até à reconstrução das zonas afectadas pelos ataques terroristas.

 

“Agradecemos pelo trabalho que estão a fazer. Agora, a tarefa que surge é manter a segurança nas zonas recuperadas e garantir a sua reconstrução e o regresso seguro das populações”, disse Kagame à sua tropa, na sexta-feira, durante a parada militar conjunta.

 

Aos jornalistas afirmou ainda estar a avaliar o período durante o qual a sua tropa estará em Moçambique, tendo em conta os progressos a serem registados no teatro operacional. (Abílio Maolela, em Pemba)

Fonte: Carta de Moçambique

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