O Presidente da África do Sul, Jacob Zuma, não resistiu às pressões do seu partido, o Congresso Nacional Africano (ANC), para deixar o poder, pouco mais de um ano do fim do mandato, acabando por se demitir “com efeitos imediatos” ontem à noite, depois de durante o dia ter mantido, numa entrevista à cadeia de televisão pública SABC, uma postura desafiante.

Durante o dia, Zuma recusava a demissão, afirmando que não via motivos e que não lhe tinham sido apresentados argumentos para o efeito. “Decidi demitir-me do cargo de Presidente da República com efeitos imediatos, apesar de discordar da direcção do meu partido”, afirmou Zuma, já numa declaração transmitida pela televisão.

A bancada parlamentar do ANC marcara a linha, encerrando as opções de Jacob Zuma de desafiar a exigência de renúncia. A Assembleia Nacional tinha marcado para hoje a moção de censura proposta pelo EFF – com algumas emendas do ANC – e que à partida tinha o apoio de todos os 249 deputados do partido no poder na África do Sul.

A antecipar-se – e por aperceber-se que não tinha mais saída – Zuma discursou à noite à nação, anunciando a demissão.

O ANC deixara claro que apenas o Presidente Jacob Zuma se podia salvar da humilhação de ser removido do cargo através de uma moção de censura.

O grupo parlamentar do ANC, o maior na Assembleia Nacional, reuniu-se na manhã de ontem e decidiu apoiar a moção de censura há várias semanas submetida pelo partido da oposição Combatentes pela Liberdade Económica (EFF), criado por dissidentes da Liga da Juventude da ANC, em colisão com Zuma.

Numa conferência de imprensa, o tesoureiro geral do ANC, Paul Mashatile, confirmou o apoio à moção como último recurso para forçar a saída do Presidente Zuma.

 “Não podemos manter a África do Sul à espera”, frisou Mashatile.

“Nós gostaríamos de criar certeza”, disse Mashatile, acrescentando: “Estamos a avançar. Ele (Zuma) encontrar-nos-á pelo caminho. A África do Sul não quer incertezas. Não é justo ao ANC. Não é justo ao país… Queremos continuar com a renovação”.

O ANC domina a Assembleia Nacional com 249 deputados. A última moção de censura apresentada contra Zuma, em Agosto de 2017, foi chumbada pela força da maioria do ANC, embora tenha recebido alguns votos de deputados do partido no poder.

Para passar, uma moção de censura deve obter a maioria absoluta de 201 deputados de um total de 400, bastando por isso ter o apoio de pelo menos 50 deputados do ANC. No actual cenário a votação claramente garantiria uma aprovação, o que significaria uma humilhação a Jacob Zuma.

Com a saída de Zuma, o ANC já decidiu que Cyril Ramaphosa é o homem que segue e quer que este assuma o cargo já, até amanhã se possível. Ramaphosa é a figura que o partido aposta para Presidente nas eleições de 2019.

O poder de Zuma vinha diminuindo desde que o seu vice-presidente, Cyril Ramaphosa, lhe sucedeu, em Dezembro, à frente do ANC, ficando bem posicionado para se tornar Chefe de Estado na África do Sul nas eleições do próximo ano, podendo, desta forma, desviar as atenções dos casos de corrupção e centrar tudo na sucessão.

Ramaphosa, aliás, fez do combate à corrupção governamental uma das prioridades durante a pré-campanha e a campanha para a liderança do ANC.

Fonte:Jornal Notícias

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