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UK PÓS-‘BREXIT’: A busca pelo novo ‘império’

O ‘BREXIT’ já está em marcha. Nove meses após o referendo que aprovou o afastamento do Reino Unido (UK) da UE, Londres accionou o artigo 50 do Tratado de Lisboa, dando início as negociações para a separação, que já se anunciam difíceis pelas expectativas de um lado e de outro do Canal da Mancha e também do mundo todo.

O divórcio não deve estar concluído antes de dois anos mas já levanta apreensão e questionamentos dos parceiros das duas partes. África tem fortes relações quer com a UE quer bilateralmente com a UK. Como fica isso após o ‘Brexit’?

As autoridades britânicas procuram tranquilizar os seus parceiros não-europeus das consequências da sua saída da União Europeia (UE). Em relação ao continente africano, o Governo da Primeira-ministra Theresa May insiste na mensagem de que “’Brexit’ Europa e não significa ‘Brexit’ Árica”.

Recentemente, as autoridades de Londres expediram para África vários ministros para tranquilizar os Governos locais de que a Grã-Bretanha permaneceria tão firmemente comprometida com o continente depois de deixar a UE.

A digressão foi feita sob o lema “GlobalBritain”, uma hashtag criada precisamente para sublinhar a insistência do Governo britânico de que, depois de sair da Europa, o Reino Unido não se tornaria numa “Pequena Inglaterra”.

Críticos dizem, porém, que “GlobalBritain” é uma tentativa da recriação do Império britânico em tempos modernos que apelidam de “Empire 2.0” (Império 2.0, ou o segundo império).

Na perspectiva do “GlobalBritain”, Londres aposta no reforço dos laços com os 52 países membros da Commonwealth, em particular com as nações africanas integrantes desta comunidade espalhada por cinco continentes. A organização é constituída pela Grã-Bretanha e suas antigas colónias, com duas notáveis excepções, Moçambique e Ruanda que não pertenceram ao Império britânico.

AS PROMESSAS

Durante reuniões recentes, mesmo antes de acionar o artigo 50 do Tratado Europeu de Lisboa, Londres procurou garantir a todos os países em desenvolvimento que as suas relações comerciais não iriam piorar após o ‘Brexit’, pelo contrário, insiste, melhorariam bastante.

Segundo fontes, o Reino Unido propõe as nações africanas da Commonwealth a construção de uma larga zona de livre comércio no continente.

As negociações formais para criar uma área africana de livre comércio cobrindo 26 países do continente, já foram validadas pelos países da Commonwealth em 2011, mas agora o projecto surge com carácter de “urgência”.

Espera-se que um acordo entre a Grã-Bretanha e os Chefes de Estado e governo da Commonwealth nessa matéria possa ser assinado no próximo ano.

Fontes da Whitehall – sede do Governo britânico – dizem esperar ter nessa altura um esboço de acordo semelhante com Austrália, Nova Zelândia e Canadá.

Lord Marland, presidente do Conselho de negócios e investimentos da Commonwealth, diz que o que se procura juntos dos parceiros africanos é explorar formas de impulsionar o comércio entre a UK e esses países.

“Quando o Reino Unido se juntou à UE, ‘rasgou’ os seus acordos com os aliados da Commonwealth e agora precisa reconstruir essas relações”, disse ele e acrescenta: “Felizmente essas são antigas amizades, mas como em todos relacionamentos, elas exigirão muito esforço para fazê-los funcionar (outra vez) “. 

No entanto, os especialistas em comércio são menos optimistas quanto à ideia, devido, em particular, à diversidade de países dentro da Commonwelath e aos seus respectivos laços com a UE.

Por exemplo, o ‘Brexit’ ocorre quando a UE – ainda a 28, portanto com a UK – acaba de concluir 10 anos de duras negociações para o Acordo de Parceria Económica (EPA) – um importante tratado de livre comercio – com a SACU (União aduaneira da Africa Austral – África do Sul, Botswana, Lesotho, Namíbia e Swazilândia) e Moçambique.

Mas a Alta-comissária britânica na África do Sul, Judith Macgregor, minimiza o impacto da retirada da UK do grupo dos 28 sobre o EPA, afirmando que isso deve ser visto como “um desastre”.

Londres já começou a discutir com África as relações pós-‘Brexit’, recordou a diplomata adiantando que paralelamente aos acordos de comércio do UK com a UE, ambos os lados esperam transformar o EPA num acordo comercial bilateral entre o Reino Unido e os países da África Austral. Presumivelmente, o mesmo acontecerá com os APE da UE com outras regiões africanas, embora estes estejam menos avançados.

PREOCUPAÇÃO E OPTIMISMO

Macgregor diz que esses novos acordos seriam melhores para o continente, reiterando que a ajuda ao desenvolvimento para a África não iria cair depois do ‘Brexit’.

Apesar das promessas optimistas de Londres, o ‘Brexit’ preocupa os parceiros africanos de Reino Unido, já que esse divórcio implica que os acordos comerciais europeus existentes deixam de ser aplicados ao país e terão de ser renegociados.

Ainda assim, o analista ganense Courage Martey mantém-se otimista. “Se o Reino Unido ficar ‘sozinho’, isto também poderá ser vantajoso para nós (África). Podemos negociar directamente com os britânicos (…) e garantir acordos mais vantajosos para nós e para os negócios locais.”

Azar Jammine, economista-chefe do gabinete de estudos Econometrix, em Joanesburgo, tem expectativas semelhantes. “Acredito que as empresas britânicas vão ver oportunidades em África e vão querer usar a África do Sul como a base para entrar nesses mercados”, diz.

Para Brian Wanyama, professor de Economia da Universidade de Kibabii, no Quénia, é necessário que as equipas de negociação dos países da Commonwealth adoptem uma estratégia conjunta para conseguir “um melhor acordo” com o Reino Unido.

“Se o fizerem de forma individual, vão certamente sair a perder”, alerta.

Kasuma Garba Karfi, especialista em finanças em Lagos, Nigéria, concorda. “Unidos somos mais fortes”, sublinha, particularmente face a um possível risco de “contágio” do ‘Brexit’.

REDACÇÃO INTERNACIONAL

Fonte:http://www.jornalnoticias.co.mz/index.php/internacional/66231-uk-pos-brexit-a-busca-pelo-novo-imperio.html