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O Arcebispo da Arquidiocese de Maputo, Dom João Carlos Nunes, defendeu, esta quarta-feira, em Maputo, que a violência que vitimou Elvino Dias e Paulo Guambe, mandatários de Venâncio Mondlane e PODEMOS, é um sinal de que o mal continua a ameaçar a sociedade, o país e, em particular, a capital do país.

 

Numa homilia proferida na manhã de ontem, durante o velório do advogado Elvino Dias, crivado de balas na noite da passada sexta-feira, em Maputo, Dom João Carlos Nunes disse que o desafio, neste momento, é “não cedermos ao medo ou indignação, mas alimentar a nossa esperança com fé”.

 

Para o líder da Igreja Católica, na província e cidade de Maputo, a sociedade não pode ficar indiferente ao sofrimento que afecta as nossas famílias, “especialmente quando se trata de vidas interrompidas de forma tão brutal”.

 

“Devemos estar juntos nestas causas porque todos temos este dom que Deus nos deu: a vida. Precisamos de estar juntos para construirmos uma sociedade de paz, de tolerância e de respeito pela vida humana”, afirmou, sublinhando que temos a missão de renovar o nosso compromisso com a justiça, com a verdade e, sobretudo, com a paz.

 

Acompanhe, a seguir, os excertos da homilia proferida na manhã desta quarta-feira pelo Arcebispo de Maputo, na Paróquia Nossa Senhor do Rosário, no bairro de Laulane, durante a despedida do advogado Elvino Dias.

 

Nenhuma palavra vai transmitir aquilo que vai na nossa alma. Estamos aqui, como uma família cristã, para nos despedir do nosso irmão Elvino Dias, cuja vida foi interrompida de forma tão cruel e inesperada. Estamos materialmente esmagados por este golpe. Custa-nos acreditar, mas temo-lo diante dos nossos olhos e temos de aceitar. É que a barbaridade e a violência que levou a sua vida nos choca profundamente e nos faz questionar a presença do mal no meio de nós. O mal existe aqui na terra. Unimo-nos à família, queremos apresentar as nossas sinceras condolências e unirmo-nos de coração à sua imensa aprovação nesta hora. Vamos nos manter firmes, porque ele, Jesus Cristo, não nos abandona.

 

Apesar de a sua vida ter sido breve, o justo é considerado abençoado aos olhos de Deus. A morte de um justo não é um castigo, mas um sinal de que Deus o escolheu para uma vida plena junto dele. A vida tem um grande valor imensurável e ninguém pode tirar a vida de ninguém. Por isso, a igreja e todos os cristãos dizem que tirar a vida é um pecado grande.

 

Elvino Dias, apesar da sua partida precoce, viveu uma vida cheia de significados. Como advogado, trabalhou incansavelmente em prol da justiça, certamente, defendendo os direitos dos mais vulneráveis e empenhando-se na promoção do bem comum. Se calhar, terá sido por isso que não foi bem entendido e nem acolhido.

 

O facto de ter partido antes de alcançar a excelência física, não diminui a plenitude da sua vida e nem o significado enorme que ganhou a sua vida. O que importa para Deus não é a duração dos nossos anos, mas a retidão das nossas acções e a profundidade do nosso compromisso com o bem e, disso, o nosso irmão Elvino tinha e tinha bastante.

 

O valor de uma pessoa não se mede pela quantidade de dias vividos, mas pela qualidade de amor e justiça e verdade que semeou no coração de muitas pessoas. A justiça que Elvino defendeu é agora reconhecida por Deus também na eternidade.

 

A violência que o vitimou é um sinal de que o mal continua a ameaçar a nossa sociedade, o nosso país e a nossa cidade. Não sermos ingénuos, o mal existe! A mensagem de Jesus nos desafia a não cedermos ao medo ou indignação, mas alimentar a nossa esperança com fé. Temos que renovar o nosso compromisso com a justiça, com a verdade e, sobretudo, com a paz. A morte de Elvino nos desafia a dar continuidade a esta missão.

 

Não podemos ser indiferentes ao sofrimento que afecta tantas famílias nossas, especialmente quando se trata de vidas interrompidas de forma tão brutal. Devemos estar juntos nestas causas porque todos temos este dom que Deus nos deu: a vida. Precisamos de estar juntos para construirmos uma sociedade de paz, de tolerância e de respeito pela vida humana. (Carta)

Fonte: Carta de Moçambique

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